Tempo no Outono 2024 – Chuvoso como nos últimos 2 anos, ou completamente diferente? Saiba a nossa previsão detalhada!

A previsão do tempo no Outono tem sido MUITO pedida por quem segue as previsões meteorológicas, e agora, particularmente depois dos fogos que, infelizmente, devastaram uma grande área de floresta, afetando pessoas, seres e infraestruturas, há ainda mais interesse em saber o que poderá vir – e, agora que estamos quase a entrar no Outono (astronómico), finalmente temos algumas ideias do que poderá vir a ser o Outono 2024

Como sempre numa previsão longo prazo há alguma incerteza associada, e tal deve ser levado em conta – no entanto, como irão ler de seguida, até há um consenso razoável nesta previsão

A pergunta que todos fazem é: Voltará a chover como nos Outonos de 2022 e 2023, em que, particularmente a Norte e Centro, a chuva foi abundante, ou teremos um Outono bem mais seco, agravando a seca?

A resposta rápida é: Muito provavelmente muito mais seco! Mas para darmos uma resposta mais concreta teremos de analisar vários fatores. Comecemos por olhar á atividade tropical – surpreendentemente praticamente inexistente no pico da temporada, e os poucos ciclones que se desenvolvem, acabam até por “morrer”, pois as condições de humidade no Atlântico, assim como wind-shear são completamente desfavoráveis

Isto deve-se a vários fatores, entre os quais uma alteração que se tem vindo a verificar na monção de África, na zona de convergência inter-tropical, que se encontra muito mais a Norte do que é habitual. Isso leva a que, no sul do Sahara, em zonas tipicamente muito secas, este ano esteja a ser excecionalmente chuvoso, levando mesmo a uma alteração na vegetação, conforme visível no vídeo abaixo

Assim, de momento, continuam a ser seguidas duas perturbações no Atlântico Central, mas que parece MUITO pouco provável que se venham a desenvolver e há uma perturbação no Golfo do México, essa com muito mais probabilidade de desenvolvimento – no entanto as previsões têm sido tão erradas em relação a ciclones tropicais, que, para já, há pouco valor nas mesmas

O modelo GFS tem sido constante no seu desenvolvimento, assim como o AIFS (versão IA do ECMWF), no entanto o modelo operacional ECMWF\IFS tem sido menos constante, e muitas vezes nem mostra desenvolvimento deste ciclone

Dada a configuração atmosférica, no entanto, penso que é quase certo que por volta de dias 26 a 28 de Setembro algo se desenvolverá no Golfo do México – que parece ser a única zona do Atlântico onde os ciclones tropicais se conseguem desenvolver nos últimos tempos…

A médio\longo prazo os modelos vão vendo a possibilidade de um pico de atividade entre finais de Setembro e durante Outubro (Talvez o Atlântico a tentar “recuperar o perdido” e a trazer aquilo que não trouxe durante os primeiros 2\3 da época de furacões? Veremos…

Será certamente um fator a ter em conta – pois impactará as previsões para Portugal, de uma forma ou outra

Vejamos a carta de previsão de ciclones tropicais (trajetórias) para os próximos 15 dias (EPS)

TEMPO NO OUTONO 2024 – RESUMO DA PREVISÃO

Antes de avançarmos para uma análise mais detalhada, vejamos um resumo do que se poderá esperar, LEMBRANDO SEMPRE QUE TODAS AS PREVISÕES A LONGO PRAZO TÊM UM GRAU DE FIABILIDADE INFERIOR ÀS PREVISÕES A CURTO\MÉDIO PRAZO

CONTINENTE

• Final de Setembro mais chuvoso que a média a Norte do Tejo, mas relativamente seco a Sul
• Início de Outubro ainda algo instável, mas rapidamente a “virar”, sendo de esperar um mês estável, e com períodos de calor
• Esses períodos de calor podem ser acompanhados, por vezes, por ventos leste – secos 
• Assim é provável o surgimento de mais algum período de risco elevado de incêndio ainda durante o mês de Outubro
• Ainda assim, e dado o padrão atmosférico previsto é possível\provável que alguns restos de ciclones ou perturbações (sub)tropicais tenham influência na circulação geral do Atlântico, pelo que na região Norte, nas “zonas do costume”, é possível que haja alguns dias com chuva – com mudanças bruscas de dia para dia
• Assim prevemos anomalia de temperatura positiva no mês de Outubro (80% de probabilidade), no geral, com precipitação abaixo da média a Sul do Tejo, e com maior incerteza a Norte (40% probabilidade abaixo da média, 30% dentro da média, 30% acima da média)
• Já Novembro deverá ser um mês marcado por tempo mais seco que nos últimos 2 anos – não se deverá instalar o mesmo padrão chuvoso que verificamos em 2023, por exemplo. Tal estará ligado ao fenómeno La Niña, e menor atividade Atlântica (entre outros fatores)
• A primeira quinzena de Dezembro deverá seguir na mesma “onda” de Novembro, com menos precipitação que a média. Em ambos estes meses a probabilidade de temperaturas acima da média é elevada. Obviamente podem ocorrer alguns períodos de frio, mas em termos médios não será a regra, mas sim a exceção – pouca neve neste período

AÇORES

• “Sorte” diferente para os Açores, onde se espera a evolução de precipitação geralmente dentro, ou acima, da média climática
• Outubro poderá ser um mês marcado por fluxos tropicais, que podem deixar muita precipitação em curtos períodos, quente e abafado
• Novembro, por outro lado, com maior influência anticiclónica, poderá ser um período um pouco mais calmo, e até ter alguns dias consecutivos de tempo seco, mas à medida que o mês avança pode tornar-se mais provável o surgimento de fluxos Atlânticos bem ativos
• Dezembro, assim, poderá começar bem mais chuvoso nas ilhas Açorianas, com a continuação das temperaturas acima da média
• Atenção ao risco de chuva bem acima da média, essencialmente, para já não estamos a prever elevada probabilidade de tempestades de vento fora do comum
• A água do mar deve persistir, ainda, com temperaturas acima da média, o que poderá potenciar a precipitação
• Assim deverá ser um Outono marcado por períodos de bastante chuva, e com risco de inundações nos Açores, intercalado por alguns períodos melhores, particularmente em Novembro

MADEIRA

• Parece que nada consegue mudar o tempo na Madeira, e, previsivelmente, continuamos a prever tempo geralmente seco no arquipélago
• Um anticiclone mais a Norte do que a média climática deverá bloquear uma boa parte das depressões Atlânticas, e portanto a chuva será sempre pouca na Madeira, pelo menos segundo as indicações atuais
• É previsível que, durante Outubro, o tempo seja geralmente seco, apenas com alguns aguaceiros ocasionais, não muito diferente do que temos tido, nem mesmo as temperaturas se devem alterar muito
• Durante o mês de Novembro é provável que haja uma descida das temperaturas, aliás como seria de esperar, no entanto é também provável que o tempo continue seco
• Possivelmente um mês com alguns períodos ventosos!
• Dezembro deverá começar com tempo mais seco e mais soalheiro, novamente – e as temperaturas até podem voltar a subir
• Deverá ser um Outono seco na Madeira, com agravamento da seca que se sente no arquipélago

Para ilustramos esta previsão deixamos a carta de previsão do modelo ECMWF, com média a 3 meses (Outubro\Novembro\Dezembro), onde vemos maior geopotencial (Estabilidade) que o normal em boa parte da Europa, mas particularmente centrado próximo da Península Ibérica, bloqueando assim os fluxos marítimos

PADRÕES ATMOSFÉRICOS DOMINANTES AO LONGO DO OUTONO

Muito se tem falado na possibilidade de La Niña, se instalar, mas a verdade é que as previsões têm vindo a falhar – e estamos já quase em Outubro, e o fenómeno ainda não surgiu, quando era esperado com probabilidade de quase 100% por esta altura

No entanto, agora já com observações a confirmar a previsão, é provável que venha a surgir nas próximas semanas, ao longo do Outono

A MJO continua bastante inativa, e pelas previsões poderá continuar assim pelo menos no início do Outono – o que nos dificulta a tarefa de previsão

O vórtice polar está mais fraco que o normal nesta altura do ano – praticamente recorde, raramente esteve mais fraco do que está de momento, com as previsões a mostrarem um vórtice polar mais fraco que o normal ao longo de Outubro – e já sinais de um possível SSW (aquecimento súbito da estratosfera) durante os meses seguintes – estatisticamente um vórtice polar fraco nesta altura do ano é mais provável de ser “quebrado” durante o Outono\Inverno

Como já referimos algumas vezes nas nossas previsões um vórtice polar mais fraco nem sempre significa mais chuva ou frio – por vezes o oposto pode ocorrer – e, levando em conta outros fatores na nossa análise, é mesmo isso que prevemos – caso haja um vórtice polar mais fraco que o normal este ano, em conjunto com La Niña, e outros fatores como a distribuição da anomalia de SST no planeta e convecção, poderá ajudar a reforçar a previsão de Inverno seco – e relativamente ameno

Mas isso falaremos noutra previsão, a seu tempo…

OUTUBRO – ANTICICLONE REFORÇADO, BASTANTE A NORTE?

Uma das razões que nos leva a crer que Outubro poderá ser marcado por tempo geralmente seco, por vezes com algum período instável\período de chuva, em especial mais a Norte, no Continente, e por mais instabilidade e chuva nos Açores é a previsão, aparentemente com bastante consenso, de um anticiclone mais a Norte que o normal

Isso irá bloquear boa parte dos fluxos Atlânticos que começam a surgir, típicos desta época do ano, mas por outro lado permite a intrusão de massas de ar de origem tropical – algo que já poderemos ver no fim de Setembro, com bastante chuva mais a Norte

Esta situação está nas previsões dos 3 principais modelos – CFS (Americano), ECMWF (Europeu) e UKMO (Britânico), sendo, assim, algo que parece muito provável

Assim o tempo em Outubro pode ser semelhante a Setembro, no fundo, em Portugal Continental – períodos de calor, quando o anticiclone se instala mais sobre o Reino Unido, períodos de transição e alguma instabilidade quando o mesmo “foge” mais para Norte – e, dependendo da atividade nos trópicos, alguma chuva mais a Norte

Infelizmente mais a Sul a probabilidade de chuva é baixa, e por isso estamos a contar com novo agravamento da seca

Estaremos atentos à possibilidade de evolução de algum ciclone tropical em direção aos Açores – felizmente que não se têm desenvolvido, mas basta um para causar estragos – e não se pode “baixar a guarda”

Estaremos atentos também à possibilidade de alguma mudança na Madeira, mas infelizmente a tendência é clara para tempo seco

Fica a previsão de anomalia de pressão atmosférica, segundo o CFSv2, na última atualização, para Outubro

NOVEMBRO – ANTICICLONE MAIS FORTE SOBRE O ATLÂNTICO?

Aqui há mais divergências, e o modelo CFSv2, utilizado na previsão para o mês anterior, não mostra o mesmo cenário que, por exemplo, o ECMWF, ou a maioria dos modelos que faz parte do sistema C3S, na última atualização (Setembro)

O consenso geral é para um reforço do anticiclone no Atlântico, mais próximo dos Açores, por vezes em extensão para Nordeste, em direção ao golfo da Biscaia

Tal cenário seria responsável por um mês relativamente seco em Portugal Continental, com melhores estados de tempo também nos Açores, e seco na Madeira – como já referimos

No entanto é possível que possam haver algumas frentes a afetar o Norte de Portugal Continental, essencialmente, com a persistência da seca a Sul

Este cenário poderá também levar a algumas entradas frias sobre a Europa Central\Leste, embora a tendência normal seja para que este Inverno não seja muito frio na Europa. Podem ocorrer também algumas depressões com impacto nestas mesmas regiões

Para este mês, dada a incerteza e algumas variáveis imprevisíveis, alertamos para o risco da nossa previsão poder sofrer alterações – devendo assim ir acompanhando as nossas atualizações

A carta abaixo, com a média do sistema de previsão Copernicus-C3S mostra-nos o anticiclone mais forte referido, no Atlântico – a confirmar…

INVERNO SECO? RISCO DE SECA EXTREMA?

Ainda nem começamos o Outono, e até pode haver uma mudança completa da previsão – mas uma situação de seca extrema, ou mesmo crítica, deve ser equacionada

Devem ser tomadas medidas preventivas, desde já, para que depois “não se corra atrás do prejuízo”

Obviamente a esta distância as previsões têm menos fiabilidade, e podem sofrer alterações – mas é o que temos para “trabalhar” e informar

As previsões do modelo “gold standard”, ECMWF, são claras e mostram a tendência para um Inverno seco, já depois de um Outono, também ele, com pouca chuva

Os outros modelos concordam, no geral, com 9 dos 10 modelos analisados a prever o mesmo – apenas 1 dos modelos prevê um Inverno mais chuvoso, mas não tem tido grande fiabilidade em previsões a longo prazo anteriores, pelo que, para já, ainda para mais estando em minoria, parece ser um cenário muito menos provável

Especialmente na região Sul a situação parece muito complicada – e 2023\2024 pode ter sido uma exceção, com a chuva a chegar de forma intensa, e a recuperar o nível de muitas barragens – a segunda metade de 2024 e 2025 podem, efetivamente, trazer condições de seca crítica à região

A verificação de previsões a longo prazo do modelo ECMWF tem sido excelente, e isso deixa-nos, obviamente, preocupados, quando as cartas para o Inverno mostram uma anomalia gigante na precipitação (abaixo da média) – no entanto, felizmente, previsões a longo prazo, todas elas, podem falhar – haja esperança!