Vórtice polar – O que é e quais os possíveis efeitos da sua “quebra”

A mais de 25km de altitude, sobre o Ártico (e a Antártida no Hemisfério Sul) todos os anos no Inverno forma-se um ciclone persistente – devido a diferenças de temperaturas entre os pólos e o Equador
No Inverno nos pólos não há luz solar, e a temperatura baixa muito, em contraste com o Equador, e isso leva à formação de um jet polar, ventos em altitude, de Oeste para Leste sobre os pólos
O vórtice polar no Hemisfério Norte tem um papel importante no estado do tempo e é comum ouvirmos falar de “aquecimento súbito da estratosfera” e “divisão do vórtice polar” e quase sempre começa-se a falar de muito frio, chuva, neve
Mas é muito mais complexo que isto. Devido à grande quantidade de massas de terra no hemisfério Norte, em comparação com o hemisfério Sul, o vórtice polar é menos persistente no pólo Norte – isto visto que há maior “ondulação” das correntes de jato e das massas de ar, sobre os oceanos, terra, montanhas o que leva a grandes diferenças na temperatura dessas mesmas massas de ar, que depois se podem propagar para a estratosfera – chamam-se “ondas de Rossby”, ou planetárias
Quando um aquecimento súbito da estratosfera ocorre, se for suficientemente forte, pode dividir o vórtice, criando “vórtices irmãos” e, por vezes, pode reverter o fluxo de ventos em altitude – habitualmente de Oeste para Leste, podem passar a soprar de Leste para Oeste
É um fenómeno de larga escala e de alto impacto, ocorrendo em média em cerca de 60% dos Invernos
Apesar de poder aumentar a probabilidade de chuva e mais frio, a complexidade da atmosfera terrestre faz com que cada evento seja único e muitas vezes altamente imprevisível
No resto do artigo irei referir o episódio de aquecimento súbito da estratosfera, a partir daqui referido como SSW, sigla mais usada na meteorologia, que está a decorrer a meio deste mês de Fevereiro de 2023
No final do dia 15 de Fevereiro (Hora de Portugal) é previsto, pela maioria dos modelos, que haja a reversão dos ventos na estratosfera, sobre o pólo Norte – podemos assim referir que estamos perante um SSW “Major”
Assim já temos ouvido falar que Março de 2023 poderá ser mais chuvoso e frio, mas será assim tão linear
A resposta é simples: Não.
A resposta da troposfera, camada da atmosfera onde se encontram os sistemas que afetam o estado do tempo à superfície, a um aquecimento da estratosfera é bastante imprevisível, e mesmo ainda pouco compreendida. Sabemos que afeta a corrente de jato no Atlântico mais que no Pacífico, uma vez que esta se localiza mais a Norte, e por essa razão os locais onde habitualmente os efeitos de uma perturbação do vórtice polar são mais sentidos são o leste dos Estados Unidos da América, assim como o Canadá, e a Europa
Mas para que haja efeitos significativos é preciso primeiro que haja um “acoplamento” da estratosfera com a troposfera, ou seja que a reversão de ventos se propague para as camadas mais baixas da atmosfera. Isso nem sempre acontece. Neste episódio de 2023, para já, há sinais de divisão em relação a esta situação – mas para já há sinais pouco consistentes que venha a acontecer esta mesma propagação, como podem ver na imagem abaixo (cores azuis no fundo do gráfico pouco presentes)
E mesmo que haja há ainda toda uma incerteza no que pode ocorrer
O jet-stream passa a estar mais ondulado, as massas de ar frio descem mais do que o habitual, mas para que uns locais tenham mais frio e instabilidade, outros terão de ter mais estabilidade – por isso prever os efeitos locais de uma perturbação do vórtice polar é, de facto, muito difícil
Vamos tomar, novamente, como exemplo, o SSW de 2023
- Ocorre a meio de Fevereiro – reversão do vento em altitude a 15 de Fevereiro
- A propagação demora cerca de 2 semanas, em média – vamos assumir que tal propagação vai acontecer, embora ainda não haja qualquer evidência concreta disso
- Após esta propagação teremos, localmente, tempo mais instável e mais perturbado, com mais frio também – e neve, claro – mas onde? É aí que entra a imprevisibilidade… Por exemplo, na Europa, os sinais atuais são que Março 2023 possa não ter grande diferença em relação a Fevereiro, uma vez que a persistência de baixas pressões sobre o Canadá deverá levar a que a pressão alta se mantenha, com bloqueio Atlântico, mas, por outro lado, nos EUA poderia haver frio extremo, particularmente no leste
Em baixo a carta de previsão para a primeira semana de Março, pelo modelo ECMWF – a subida da alta pressão é visível, algo que acontece muitas vezes após um SSW. Será que vai ser suficiente para alterar significativamente o estado do tempo? A ver vamos
De facto o vórtice polar é um fenómeno fascinante, e sobre o qual ainda desconhecemos bastante, especialmente os seus efeitos no estado do tempo… Certo é que, sobre o Ártico, todos os Invernos ele aparece forte, e todas as Primaveras começa a enfraquecer, assim que o sol começa a aparecer nas latitudes mais elevadas… e assim será também em 2023… aliás esta perturbação do vórtice polar a meio de Fevereiro poderá fazer com que o vórtice já não recupere mais, uma vez que a Primavera está à porta
Sempre que há um aquecimento súbito da estratosfera recomendamos que vá seguindo as previsões com frequência, pois podem ocorrer mudanças repentinas nas previsões – e neste caso não é diferente
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Este relatório é referente a 2023 ou 2024?