Análise Climática

Temporada de furacões 2024 no Atlântico – Monumental falhanço das previsões? O que se passa? Análise e informações atualizadas

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A temporada de furacões no Atlântico, em 2024, está a ser, até ver, um autêntico desafio para qualquer meteorologista. Se, por um lado, as condições pareciam extraordinárias para a formação de ciclones, por outro… as coisas não são bem assim!

Houve um foco demasiado grande na temperatura da água do mar, e na provável formação de La Niña – no fundo as previsões foram ALTAMENTE baseadas nestes 2 fatores. Mas, como comprova o que está a acontecer atualmente, claramente esses dois fatores não são os únicos importantes!

Como se compara a previsão desta época de furacões, com a realidade até agora? Bem… Temos de aguardar por dados finais, até porque ainda estamos a meio, ou pouco mais, da mesma, mas temos apenas 5 tempestades nomeadas, e pela primeira vez desde o meio de Agosto, em mais de 50 anos, não temos qualquer tempestade nomeada. Isto naquilo que, supostamente, seria o pico da época. Assim é obvio que podemos afirmar que, até ver, esta previsão está a ser um “falhanço”. Mas porquê?

Antes de passarmos às (possíveis) razões vamos olhar ao ensemble ECMWF para os próximos 10 dias – podemos ver a chance de formação de algumas perturbações, mas nada muito concreto – veremos se alguma delas acaba por conseguir uma nomeação, e desenvolvimento

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ECMWF - Trajetórias de ciclones tropicais nos próximos 10 dias


TEMPORADA DE FURACÕES RECORDE ALIMENTADA POR TEMPERATURAS DO MAR RECORDE?

Um dos grandes fatores na previsão para esta época de furacões era, sem dúvida, a temperatura do mar em valores muito acima do normal – mas será que se verifica?

Olhando à carta de anomalia da água do mar, da NOAA, sim, temos de facto temperaturas muito acima do normal nos oceanos, algo que não deve surpreender, tendo em conta a tendência do último ano

Assim, um dos fatores que influenciaria a previsão desta temporada de furacões verifica-se, pelo que temos de olhar para outros fatores, para perceber o que se passa. Uma das “pistas” pode estar já nesta imagem!

Reparem como há uma pequena anomalia da temperatura da água do mar perto do Equador – pode parecer insignificante, mas poderá ter algumas consequências

Temporada de furacões - SST Atlântico


ONDAS TROPICAIS MAIS A NORTE QUE O NORMAL?

O mais comum é vermos as ondas tropicais saírem da região de Cabo Verde, ligeiramente a sul, até, onde a água está quente, habitualmente, e a humidade é elevada – isso leva, muitas vezes, à génese de depressões tropicais, que depois, com um largo oceano pela frente, podem evoluir para furacões

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Mas este ano as depressões estão a formar-se mais a Norte, onde a água do mar está mais fresca, e há também muito mais poeiras!

Isto, obviamente, limita o potencial de desenvolvimento, podendo mesmo inibir por completo, como tem acontecido – mas porquê é que está a acontecer?

A resposta está na zona de convergência intertropical (ITCZ) muito mais a Norte do que o habitual, que está inclusivamente a levar chuva ao deserto do Sahara!

Um dos fatores que podem estar a influenciar este deslocamento para Norte da ITCZ pode ser, precisamente, a já mencionada anomalia da temperatura no Equador – que contrasta com a água muito quente um pouco mais a Norte, criando uma anomalia que poderá estar a empurrar a zona onde ocorre a convergência intertropical

Com esta circulação mais a Norte as perturbações resultantes podem mesmo acabar por introduzir mais ar seco na área de desenvolvimento tropical principal (MDR), potenciando ainda menor probabilidade de surgimento de atividade tropical

Área de convergência inter-tropical muito a Norte nos últimos 10 dias

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BAIXO CISALHAMENTO VERTICAL DEVIDO AO FENÓMENO “LA NIÑA” – OU TALVEZ NÃO…

Outro grande fator na previsão para esta temporada de furacões seria o baixo cisalhamento vertical (Wind-shear), uma vez que a previsão apontava para o surgimento de La Niña

Mas La Niña ainda não se materializou, e nas últimas semanas temos mesmo assistido a mais “Wind-shear” que o normal

Este pode ser o resultado do não surgimento de La Niña, ou de outro fator que não compreendemos muito bem, mas é significativo no contexto de previsões tropicais

Se o wind-shear mais baixo facilitaria a formação, e intensificação, das tempestades de génese tropical, com wind-shear mais elevado que a média a formação é dificultada, e, mesmo que venham a formar-se, as tempestades terão muito mais dificuldade em manter a estrutura, ou intensificar – anulando assim o efeito do baixo wind-shear previsto, devido ao fenómeno La Niña

Assim temos já 2 fatores que podem estar a inibir a formação tropical no Atlântico e explicar, em parte, a época de furacões menos ativa que o normal – mas há ainda mais fatores, que detalharemos de seguida

Anomalia de Wind-Shear no Atlântico Tropical


MAIS ESTABILIDADE QUE O NORMAL – VÁRIOS FATORES A INFLUENCIAR…

MJO – Madden-Julian Oscilattion, que tem 2 fases – a fase ativa, e a fase suprimida

Na fase ativa tende a gerar maior convecção, enquanto na fase suprimida a convecção é, como o nome diz, suprimida, reduzindo substancialmente a atividade de trovoadas

Nas últimas semanas a MJO tem estado na fase suprimida no Atlântico, levando a menor convecção, e, por consequência, menos perturbações. Se as perturbações já têm bastante dificuldade em evoluir no ambiente “hostil” provocado pela deslocação para Norte da ITCZ, e do maior wind-shear que o previsto, quanto menos perturbações existirem menor é a probabilidade que alguma delas consiga proliferar neste ambiente hostil

Para “ajudar” na estabilidade, e impedir ainda mais a formação das tempestades, este ano estamos a ter também uma forte anomalia da temperatura nas camadas mais altas da troposfera.  O ar mais quente em altitude suprime também a atividade convectiva, e pode ser resultado de vários fatores – o aumento do vapor de água pode ser um deles, possivelmente devido às alterações climáticas

Podemos ver na carta abaixo precisamente a MJO, estando nos últimos tempos, precisamente, bastante suprimida (perto do centro no gráfico)

MJO - Previsão


SERÁ QUE SE VAI MANTER ASSIM PARA O RESTO DA ÉPOCA DE FURACÕES?

A verdade é que se já falhamos de forma MUITO SIGNIFICATIVA nas últimas semanas, a confiança para o resto da previsão é bastante baixa

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Dito isto a água do Oceano Atlântico está de facto muito mais quente que o normal, e por isso o risco mantém-se – e se a época de furacões tipicamente tem pico entre finais de Agosto e finais de Setembro, é bem possível que este ano possa acabar por se verificar mais tarde – e tendo em conta a anomalia de temperatura prevista é bem provável que, dados outros fatores favoráveis, a época de furacão se alargue, este ano, para Novembro e mesmo, talvez, Dezembro

Os sinais atmosféricos para a segunda quinzena de Setembro em diante são algo mais favoráveis ao desenvolvimento tropical – mas para já, nada de muito concreto, até porque tudo pode mudar muito rapidamente

A previsão atual aponta para diminuição do wind-shear e arrefecimento das camadas mais altas da troposfera (enquanto se mantém a temperatura do oceano muito por cima do normal, conforme já referido)

Assim tudo indica que o Atlântico ainda poderá entrar em forte atividade dentro de uma ou duas semanas – mas, como já referimos, a verdade é que se o resto da previsão desta época de furacões falhou, a confiança para elaborar uma previsão para o resto da mesma é mais baixa

Da mesma forma, no\s próximo\s ano\s teremos de levar em conta mais fatores do que apenas a temperatura Oceânica para efetuar as previsões – há muito mais fatores determinantes, e que por vezes acabam por ser ignorados. Alguns deles são imprevisíveis, outros mais previsíveis. Certamente que ajustando a previsão para ter em conta todas essas incertezas, e levando em conta todos os fatores conseguiremos uma melhor previsão. Mas não é de esperar que as previsões tropicais sejam 100% corretas – muito menos acertar no número de tempestades que irão ocorrer

Dito isto a temporada de furacões 2024 ainda está longe de terminar, pelo que iremos manter-nos bem atentos e atualizar, quando necessário

Podemos ver que, mesmo para a terceira semana do mês, o modelo ECMWF prevê atividade tropical por baixo da média. Depois disso parece “virar” e mostrar atividade acima da média – mas nem mesmo a 7-10 dias a previsão tem grande fiabilidade, por isso o melhor é mesmo ignorar por agora as previsões a maior distância

Esperemos que tudo corra pelo melhor, e que, mesmo que a atividade tropical venha a intensificar, não cause muitos estragos

ECMWF - Previsão de atividade tropical abaixo da média na terceira semana de Setembro

 

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Fontes usadas para esta informação meteorológica

Meteologix

TropicalTidbits

NOAA

ECMWF

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