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Chuva no deserto do Sahara nos próximos 15 dias – Será um sinal de um clima profundamente alterado? – O que esperar nos próximos tempos em Portugal e no mundo?

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Chuva no deserto do Sahara é algo que, certamente, ninguém espera ler quando vê uma previsão meteorológica – afinal de contas este deserto é conhecido por ser um dos locais mais secos do planeta, com uma média anual de precipitação extraordinariamente baixa

Em alguns locais passam-se anos e anos em que não chove, mesmo, de todo!

No entanto estamos prestes a assistir a um evento de precipitação que pode ser o mais significativo dos últimos 50 (talvez 100) anos na região – com precipitação até 5-10 vezes acima do normal – que é inferior a 25 l\m2 ao longo do ano na maior parte dos locais

Podemos ver, segundo a previsão do modelo ECMWF, para os próximos 10 dias, valores de precipitação até 100mm no deserto – mas afinal, o que se passa para isto acontecer? Continue a ler para a explicação!

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Chuva no deserto Sahara - alteração profunda do clima?


ZONA DE CONVERGÊNCIA INTERTROPICAL DEMASIADO A NORTE – CHUVA NO DESERTO

A zona de convergência intertropical é uma zona do planeta, localizada nos trópicos, como o próprio nome indica, onde se formam tempestades, e onde chove muito, habitualmente

É uma zona de baixas pressões, formada pelo “encontro” (convergência) dos ventos alísios de ambos os hemisférios, Norte e Sul, situada no ramo ascendente da célula de Hadley pode ler mais sobre este fenómeno no nosso artigo AQUI

Este ano a zona de convergência intertropical tem estado demasiado a Norte, pelo menos nos últimos 2 meses – sem que haja uma explicação muito clara para isso

Na imagem abaixo podemos ver a posição da zona de convergência intertropical, quando comparado com o que seria expectável (linha vermelha = atual, linha preta = normal)

Zona de convergência intertropical demasiado a Norte

ÉPOCA DE FURACÕES BEM ABAIXO DO PREVISTO – PARA JÁ

Este fenómeno tem levado a que a chuva\tempestades sobre África se localizem mais a Norte que o habitual – levando a anomalias como esta que vamos falando neste artigo, com precipitação sobre locais áridos, como o deserto do Sahara, mas não só – a temporada de furacões hiperativa que estava prevista, para já, não está a surgir, e uma das grandes explicações pode ser precisamente esta anomalia

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Os ciclones tropicais formam-se a partir de depressões que, ao saírem de África em direção ao Atlântico, nos trópicos, encontram água quente e condições favoráveis para a génese tropical. Mas, este ano, essas depressões estão localizadas muito mais a Norte, onde têm encontrado condições mais desfavoráveis – água mais fria, windshear mais elevado – e, por isso, pelo menos até final de Agosto e pelo que se vai perspetivando para Setembro, a época de furacões de 2024 não parece ser nada de excecional, talvez até pelo contrário, apesar do potencial de energia acumulado no oceano ser enorme!

Pode parecer uma excelente notícia, mas nem tudo o que parece é: É verdade que não havendo tantos ciclones tropicais poderá poupar muitas regiões do planeta a muitos estragos que poderiam ocorrer, mas são os ciclones tropicais os responsáveis pela “dissipação” da energia excessiva retida nos oceanos – e, caso não se formem nos próximos meses, todo esse calor acumulado na água do Atlântico será libertada para a atmosfera – o que poderá levar a um feedback positivo – e mais aquecimento

Agosto de 2024 deverá ser considerado o mais quente em registo, no planeta Terra, mantendo a tendência de meses mais de 1,5ºC acima da era pré-industrial, isto apesar da ausência de El Niño

Além da presença de La Niña os modelos parecem sugerir um índice negativo de IOD (dipolo do Oceano Índico), que é algo muito invulgar em conjunto com La Niña – serão estes indicadores de um clima profundamente alterado? Talvez, mas ainda temos de aguardar para ver como tudo se irá desenrolar

Podemos ver na imagem abaixo a previsão de ciclones tropicais e trajetórias nos próximos 10 dias, segundo o ECMWF – é provável um sistema nas Caraíbas, mas para já ainda não há sinais muito evidentes para além disso – podendo no entanto surgir a primeira onda tropical na região de desenvolvimento tropical principal – mas parece tudo muito calmo, quando temos em conta as condições existentes

Chuva no deserto do Sahara nos próximos 15 dias - Será um sinal de um clima profundamente alterado? - O que esperar nos próximos tempos em Portugal e no mundo?

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PODERÁ ISTO LEVAR A QUE O SAHARA DEIXE DE SER UM DESERTO?

O clima na Terra passa por alguns ciclos – normalmente bastante lentos – mas que podem ser acelerados antropologicamente – neste caso pelo aquecimento global, que leva a alterações climáticas profundas

Há cerca de 8-12 mil anos atrás o Sahara não era um deserto, mas sim uma Savana Verde – com muita vida!

Depois disso o clima árido instalou-se, e assim se formou um dos maiores desertos no mundo

  • Poderão estas alterações significar um regresso de um Sahara verde, e quais as implicações de tal?

Na verdade, não sabemos. Não é ainda bem compreendido o porquê desta alteração súbita na posição da zona de convergência intertropical, podendo ter a ver com o facto de termos um aquecimento recorde do planeta há cerca de 18 meses – constantemente perto\acima de 1,5ºC em relação ao período pré-industrial

No entanto ainda é muito cedo para tentar explicar, sem que haja mais estudos, e sobretudo sem esperar como se irá desenrolar no futuro

Mas é, definitivamente, uma possibilidade – afinal de contas não seria a primeira vez que este deserto deixava de o ser! 

E quais as implicações? Bem, novamente é demasiado cedo para tentar dizer… Poderá ser uma forma da Terra se equilibrar? Sim. Mas haverá consequências muito maiores, certamente, principalmente se continuarmos a libertar gases com efeito de estufa de forma continuada e em níveis recorde – as anomalias não ficarão por aqui, certamente, e um equilíbrio não parece possível

O melhor é mesmo continuar a acompanhar esta anomalia, e perceber se é apenas temporária, ou um sinal de algo mais profundo – e, se assim for, quais as consequências 

Obviamente, para além de acompanharmos, há que continuar a fazer tudo o que nos seja possível para reduzir as emissões de GEEs – o problema não se vai corrigir sozinho

Poderá o Sahara tornar-se uma Savana?


QUAIS AS IMPLICAÇÕES NO CLIMA GLOBAL?

Uma das grandes implicações foi já discutida neste artigo – a dificuldade enorme na previsão da época de furacões 2024, que, até agora, está muito abaixo do previsto

Os modelos, para as próximas semanas, têm pouco sinal para uma intensificação da atividade tropical de forma significativa – mas são pouco fiáveis a mais de 7 dias neste tipo de situações

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Ainda assim começa a haver a possibilidade de vermos uma época de furacões muito abaixo do previsto – ou então fora de época!

Deve ser referido que as previsões lançadas todos os anos são relativamente fiáveis – normalmente apenas com falhas ligeiras no número de tempestades\furacões nomeados, dependendo da entidade que efetua as previsões – por isso ver uma falha enorme, caso aconteça, pode ser mais um sinal que não compreendemos muito bem o que está a acontecer

E se não compreendemos bem o que está a acontecer com a zona intertropical, as alterações sobre os trópicos e sobre o Sahara, certamente não compreendemos também o que poderá significar a nível global – como poderemos compreender algo globalmente, se não conseguimos compreender algo que se passa a nível regional?

Por exemplo em Portugal os padrões climáticos atuais são indicativos de um Outono e Inverno mais secos que o normal – talvez com 50 a 75% da precipitação normal, ou até menos – além de uma falta de fria nas latitudes médias (grande parte da Europa seria afetada pela falta de neve)

Até prova em contrário é essa a previsão que devemos levar em conta – e no caso de Portugal, por exemplo, começar a considerar a possibilidade do regresso de uma seca severa – mas todas estas anomalias podem alterar imenso o estado da atmosfera e podemos vir a ter algo completamente diferente do que esperamos!

Estamos atualmente a analisar os padrões climáticos, e a tentar perceber qual o cenário mais provável para o Outono\Inverno, levando em conta também estas anomalias e incertezas, e iremos atualizar a informação em breve

Na imagem abaixo podemos ver que La Niña é uma possibilidade forte nos próximos meses – mas pode ter uma duração bastante curta – e o próximo El Niño, quando surgir, será provavelmente responsável pelo maior aquecimento já registado na história moderna na Terra

Fique atento às nossas atualizações das previsões meteorológicas e análises climáticas!

ENSO - La Niña a caminho, mas cada vez menos provável?


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Fontes usadas para esta informação meteorológica

Meteologix

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NOAA

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