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Vórtice polar – Vento recorde na estratosfera mantém os ciclones sobre o Ártico – poderá uma mudança durante o Inverno “salvar-nos” da seca em 2025?

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O vórtice polar, que nada mais é que um ciclone de larga escala sobre o Ártico (ou Antártida no Hemisfério Sul), na estratosfera (a cerca de 30kms de altitude), é um dos principais responsáveis pela circulação atmosférica, sendo também, assim um dos principais fatores a ter em conta quando elaboramos previsões de regimes atmosféricos

Este ano, o vórtice polar encontra-se com intensidade muito mais forte que o normal – de tal forma que neste final de ano atinge intensidade recorde para a época do ano!

Já aqui referimos diversas vezes que, de facto, este seria um fator muito importante a ter em conta nas previsões, e, que, caso não houvesse qualquer alteração o tempo seco seria, quase, inevitável – o que se tem confirmado há mais de um mês, com um dezembro extremamente seco, que foi corretamente previsto

O vórtice polar é sempre um grande desafio de prever – e consequentemente qualquer alteração pode ser repentina, levando também a alterações no padrão de circulação geral – no entanto cada vez estamos melhores a prever este tipo de fenómenos, e os modelos meteorológicos atuais já conseguem “captar” os sinais de alteração que possam surgir – ou a falta deles

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Analisemos então o que nos nos dizem para o resto do Inverno, e o que isso pode significar!

Vórtice polar recorde para a época do ano na análise ERA-5
Vórtice polar recorde para a época do ano na análise ERA-5

VÓRTICE POLAR RECORDE, MAS MAIS OSCILANTE EM JANEIRO… PODERÁ CAMINHAR PARA UMA QUEBRA?

Antes de mais devemos explicar de que forma o vórtice polar afeta o tempo sobre a Europa, para percebermos porque razão um vórtice polar forte poderá manter o tempo muito mais seco

Ao prender o ar frio no Ártico, em latitudes > 60ºN, um vórtice polar robusto acaba por manter uma corrente de jato polar com poucas ondulações – ou seja mais estável

Dependendo da forma como esse jato polar se posiciona isso pode significar a manutenção de um padrão atmosférico semelhante durante semanas, ou mesmo meses – seja isso chuvas persistentes, ou, no caso de Portugal, este ano, devido a um jato polar a passar bem a Norte do nosso território, e a um anticiclone mais robusto, tempo mais seco! 

Podemos ver, na imagem da NOAA, abaixo, a diferença no jato polar entre um vórtice polar forte, ou mais fraco – bem esclarecedor!

Vórtice polar mais forte ou mais fraco - um indicador importante para o Inverno no hemisfério Norte!
Vórtice polar mais forte ou mais fraco – um indicador importante para o Inverno no hemisfério Norte!

O vórtice polar, este ano, tem estado bastante estável – e isso é resultado de vários fatores, muitos deles processos físicos extremamente complexos, mas um dos fatores que tem ajudado a que este vórtice não perca a sua intensidade e estrutura, este ano, é o facto de estarmos no ciclo positivo do QBO (Quasi-Biennal Oscillation)

Este fator irá permanecer ao longo de todo o Inverno

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Não é assim surpresa que este Inverno na Europa esteja a ser um inverno MUITO ameno!

NO ENTANTO há vários modelos que mostram que o vórtice polar pode estar a caminhar para uma quebra, ou pelo menos para um enfraquecimento substancial para o final de janeiro, ou durante fevereiro

Podemos ver isso nas previsões abaixo (CFSv2, linha roxa)

Vórtice polar muito forte - mudanças para o final de janeiro?
Vórtice polar muito forte – mudanças para o final de janeiro?

Mesmo que tal enfraquecimento se verifique é provável que apenas notemos uma verdadeira mudança um par de semanas depois, uma vez que, como referido, o vórtice polar é um fenómeno na estratosfera, em elevada altitude, e, para se refletir na circulação na troposfera (a camada mais baixa da atmosfera) pode demorar algum tempo – ou até nem refletir!

Cada situação é diferente, e cada aquecimento súbito da estratosfera tem efeitos diferentes – conforme explicamos no nosso artigo AQUI

Por exemplo na imagem abaixo vemos a cor azul (vento de leste) a propagar-se para a parte inferior da imagem – ou seja a baixa atmosfera, no início de Janeiro, mas rapidamente substituído pelos ventos Oeste – o mesmo que temos tido nas últimas semanas!

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Esta mudança entre 1 a 7 de Janeiro, aproximadamente, coincide com as dúvidas na previsão, podendo haver mais frio e\ou chuva – mostrando-nos, de facto, como as mudanças que ocorrem em elevada altitude podem influenciar o tempo. No entanto também nos mostram a imprevisibilidade, pois, neste momento, ainda não conseguimos prever como começar Janeiro!

Vórtice polar - propagação dos ventos nas várias camadas
Vórtice polar – propagação dos ventos nas várias camadas

QUAL A PROBABILIDADE DE UMA MUDANÇA, E IRÁ “SAFAR-NOS” DE UMA SECA PROLONGADA?

De facto, segundo as projeções atuais, e ainda sem adiantar por completo a previsão para Janeiro, que ainda estamos a analisar, as coisas não parecem positivas

Um vórtice polar ainda relativamente robusto, ausência de sinal para uma mudança nos modelos de médio prazo, e tendência para, de forma persistente, ser previsto tempo seco nos meses que se seguem, de forma consecutiva, deixam o medo de uma seca que se pode tornar grave – depois de um novembro que não foi particularmente chuvoso, e um dezembro extraordinariamente seco

O QBO na fase positiva (OESTE) para além de, estatisticamente, dificultar as perturbações do vórtice polar, também poderá agir como “inibidor” do acoplamento estratosfera-troposfera caso esta perturbação (que como mencionámos começa a ser vislumbrada para finais de janeiro ou fevereiro) ocorra

Isto quer dizer, no fundo, que temos MUITAS DÚVIDAS que tenhamos um enfraquecimento muito significativo do vórtice polar, ou um aquecimento súbito da estratosfera, que leve a uma alteração profunda na circulação – e, assim, tendemos a acreditar nos modelos deterministas, que mostram tempo seco (mais seco que o normal) ao longo do inverno, e, quem sabe, a prolongar-se pela primavera

No entanto é a nossa esperança de nos “safarmos” de uma seca prolongada – um enfraquecimento do vórtice polar que leve a uma ondulação do jet-stream, e a uma maior propensão para sermos afetados por perturbações Atlânticas… Caso tal não aconteça, podemos de facto estar perante uma situação complicada, especialmente a Sul

Podemos analisar, segundo o modelo CFSv2, para o trimestre Janeiro-Fevereiro-Março, a anomalia de precipitação prevista – sinal ROBUSTO para tempo seco, algo que se tem mantido, e que tem sido bastante fiável

Inverno seco em perspetiva, conforme já havíamos previsto...
Inverno seco em perspetiva, conforme já havíamos previsto…

PODERÁ A PRIMAVERA SER CHUVOSA?

Analisando os anos “análogos”, ou seja os anos em que a circulação atmosférica esteve mais próxima de 2024, de facto estatisticamente é uma probabilidade moderada

No entanto é um método de previsão que não gostamos muito de utilizar, uma vez que mesmo que a circulação atmosférica seja semelhante, o nosso país é um país muito pequeno, suscetível a que até uma ligeira mudança possa alterar tudo!

E, na realidade, os modelos de previsão longo prazo, tanto Americanos, como Europeu ou Britânico, não vão muito nesse sentido – mostrando tempo seco – embora exista, de facto, algum sinal para uma alteração – pelo menos mais próximo do normal, e não uma ausência quase total de qualquer precipitação

No fundo a forma como o vórtice polar se irá comportar, na nossa opinião, é determinante para o desenrolar do estado do tempo em Portugal – uma quebra ou enfraquecimento temporário, seguido por uma recuperação rápida, sem tempo para que haja um acoplamento à estratosfera, deverá manter as probabilidades de chuva significativa bem mais reduzidas, infelizmente (E é, para já, tendo em conta tudo, o mais provável)

No entanto relembramos anos como 2018, em que após um inverno quase inexistente, repentinamente no final de fevereiro tivemos uma mudança drástica, e durante 2 meses tivemos chuva persistente, que acabou com uma seca que já durava há vários meses, pelo que é sempre um cenário possível

Sem sermos demasiado pessimistas, temos de ser realistas – 2024 termina sem chuva, 2025 inicia sem chuva, e não há chuvas em perspetiva, pelo menos significativas, nas previsões – e o inverno são 3 meses, e daqui a pouco estaremos a meio… pelo que é algo com que nos devemos preocupar, pois as reservas hídricas, mais a Sul, entrarão em níveis críticos rapidamente se não chover

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E creio que é a mensagem essencial que é necessário transmitir: Podemos tentar prever, podemos tentar antecipar, mas a verdade é que não sabemos o que vai suceder. Mas os indicadores mais fiáveis indicam que podemos estar a entrar numa seca prolongada, pelo que é necessário poupar água, e tomar as devidas medidas preventivas – enquanto se planeia a longo prazo, para este tipo de situações, que serão cada vez mais frequentes…

Modelo ECMWF a prever uma Primavera seca - embora o sinal não seja tão forte como no Inverno
Modelo ECMWF a prever uma Primavera seca – embora o sinal não seja tão forte como no Inverno

Conte-nos nos comentários, abaixo, na sua opinião, como se irá desenrolar o inverno de 2024-25, e se acha que pode haver uma mudança nas previsões. Sente-se preocupado pela seca, ou, por outro lado, acha que rapidamente as coisas normalizarão? Participe com a sua opinião!

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