Resumo Climático Junho 2021

Este mês de Junho foi um mês “de loucos” um pouco por todo o planeta, com inúmeros eventos climáticos extremos…
Em Portugal foi um mês com enormes variações, e que certamente terá sido visto por muitos como anormal, mas que no geral foi um mês perfeitamente normal
Relativamente às médias 1981-2010 este mês de Junho foi ligeiramente mais fresco que o normal, com anomalias negativas de aproximadamente 1 grau em alguns locais, tendo sido geralmente normal em precipitação
No entanto foi um mês com menos sol que a média, algo que era previsto, com muitos dias de nuvens, ainda assim, e, comparativamente com anos anteriores, este mês teve um pouco menos de nebulosidade baixa no litoral, mas muita frescura e nortadas
QUAL FOI O PADRÃO ATMOSFÉRICO DOMINANTE?
Tivemos ao longo do mês de Junho um padrão dominante de bloqueio na Escandinâvia… Este tipo de bloqueio favorece, tipicamente, Verões mais frescos no Oeste Europeu, e que podem ser mais chuvosos nos Açores
Isso foi-se vendo ao longo de Junho, a Europa teve um Junho realmente muito quente, à excecão do Oeste\Noroeste
Vários recordes foram sendo quebrados na Escandinâvia, que vive uma enorme seca
Quando um anticiclone está presente persistentemente na Europa de Norte a tendência é para as depressões andarem mais a Sul e próximas da Europa Ocidental, e isso foi reforçado pelo facto de haver igualmente um anticiclone persistente no Oeste da América do Norte, que foi causando também inúmeros recordes
PRIMEIRA QUINZENA
A primeira quinzena de Junho foi bastante “mista” com início fresco, seguido por uns dias bem quentes, umas trovoadas violentas (Que levaram a granizo de dimensões pouco habituais em Portugal…) e rapidamente arrefecendo novamente…
Nesta primeira quinzena as temperaturas no entanto foram acima da média para o período
Mas o destaque foi, claramente, para as trovoadas que ocorreram neste período
Muita nortada, no entanto, por volta de dia 10, houve um par de dias com lestada e calor a chegar ao litoral… raros dias de calor no litoral em Junho…
Anomalia de temperatura e precipitação durante a primeira quinzena segundo o Tokyo Climate Center nas imagens abaixo
TEMPERATURA
PRECIPITAÇÃO
SEGUNDA QUINZENA
A primeira semana da segunda quinzena de Junho, aproximadamente até dias 21\22, foi caracterizada por temperaturas frescas, nuvens, neblinas, fluxo Oeste, frescura, e alguma chuva fraca…
O anticiclone encontrou-se afastado…
Posteriormente começou a aparecer algum calor, os modelos meteorológicos chegaram a ameaçar com calor mais extremo, que não surgiu, no entanto… Uma depressão mergulhou a Oeste no dia 24 enquanto o anticiclone se tentava estender para as ilhas Britânicas, no entanto rapidamente tivemos a aproximação de outra depressão retrógrada que moderou o calor…
A máxima mensal assim foi abaixo dos 40 graus (39,3º), em Santarém no dia 25
Tivemos também uma mínima de 2,6º em Carrazeda de Ansiães no dia 4 de Junho
Foi claramente uma segunda quinzena de Junho mais fresca que o normal
É de destacar também a forte anomalia negativa da temperatura da água do mar
Para amantes de praia não foi um bom mês no Oeste, apenas no Algarve
Mas, na realidade, isso é relativamente comum em Junho
Em baixo, por parte do Tokyo Climate Center, ficam cartas com anomalias de temperatura e precipitação
TEMPERATURA
PRECIPITAÇÃO
Nos AÇORES foi um mês geralmente mais chuvoso que o normal, com períodos bastante chuvosos, entre dias 24 e 27 especialmente, com alguns episódios mais intensos…
No geral houve muitas nuvens e poucos dias de céu limpo, e quase todos os dias foi chovendo qualquer coisa
As temperaturas no geral foram perto do normal, com períodos ligeiramente mais frescos que o normal
É de destacar que a presença de sistemas de características subtropicais na zona dos Açores nos meses de Verão é relativamente comum no entanto com as alterações climáticas e aquecimento do Oceano Atlântico tem-se verificado que isso é cada vez mais comum, e é muito provável que num futuro próximo cada vez mais ciclones subtropicais\tropicais afetem os Açores durante os meses de Verão
Na MADEIRA durante o mês de Junho não houve muito para contar, com temperaturas que foram geralmente na média, e pouca chuva, que quase não apareceu
Houve imensos dias com fluxo Norte, aliás como também é normal com um anticiclone centrado perto dos Açores
Nesses dias o vento sopra mais intenso nas vertentes Norte e zonas montanhosas da Ilha… E acaba por haver alguma chuva fraca nessas mesmas zonas
SECA
O mês de Junho não trouxe alterações muito significativas na distribuição da seca ao Continente, no entanto começa a evidenciar-se mais seca a Sul, e maior contraste com o Norte
Temos neste momento seca severa em boa parte do Algarve, e seca a chegar até ao Vale do Tejo
É relativamente normal este cenário em Junho, e comparativamente com outros anos, nem estamos mal, no entanto segundo o índice PDSI têm sido raríssimos os meses sem seca em Portugal nos últimos 5 anos
Vejamos a situação no final do mês com o mapa publicado pelo IPMA
JUNHO DE 2021 PELO MUNDO…
Começamos com o mapa de anomalia de temperatura e precipitação mensal pelas análises ERA\DWD
TEMPERATURA
PRECIPITAÇÃO
Neste mês, conforme anteriormente mencionado, na EUROPA divisão entre Europa Ocidental, e o resto da Europa…
Podemos ver facilmente a Europa Ocidental com temperaturas geralmente abaixo da média, e precipitação acima da média, mas o persistente anticiclone na Europa de Norte levou a que houvesse menos chuva, e temperaturas mais elevadas na Europa de Norte, Central, e de Leste
Inúmeros recordes foram sendo quebrados
Um padrão climático instável levou também a inúmeras situações de temporal que são explicadas pela corrente de jato perturbado (Ver AQUI)
Outros locais que saltam à vista nestes mapas são a AMÉRICA DO NORTE onde uma onda de calor histórica ocorreu no Noroeste perto do final do mês com centenas de recordes a cair, incluindo o recorde nacional do Canadá, que ficou estabelecido nuns inacreditáveis 49,6º, em Lytton, vila que acabaria destruída pelo fogo
Uma “cúpula de calor” rara, que foi como que uma situação de calor “perfeita”, impulsionada por uma combinação de água mais fresca que o normal no Pacífico Leste, uma depressão isolada a Oeste e alterações climáticas
No restante dos Estados Unidos foram-se atingindo extremos, quer de temperaturas elevadas, quer de temperaturas baixas, mas com anomalias gerais menores
Nas latitudes tropicais geralmente a temperatura esteve acima do normal, e a precipitação variável
Outro destaque é a ÁFRICA subsariana, com temperaturas geralmente acima do normal e pouca chuva, que tem levado a secas extremas e que têm provocado situações de fome e morte em alguns países mais desfavorecidos…
No Norte de África as temperaturas foram muito acima do normal, com inúmeros valores recorde na Argélia, Tunísia etc…
Enorme dualidade entre Norte da Ásia e Sul, com temperaturas extremamente elevadas no Norte, em zonas como a Sibéria, por exemplo, e próximas do normal na restante Ásia (Acima do normal e com recordes no Médio Oriente)
Essa dualidade foi vista também na precipitação, com chuvas extremamente intensas em algumas zonas do Sul e Sueste Asiático, com inúmeras inundações, e situações de tempo mais extremo
Na China foram registados inúmeros tornados anormalmente fortes
GELO NO ÁRTICO
Degelo a ritmo acelerado, e no final do mês estávamos entre os 3 anos com menos gelo no Ártico para Junho
No entanto no final do mês a persistência de ciclones nas latitudes árticas levou a que começasse a recuperar
É improvável que venha a ser o ano com menos gelo já registado, mas ficará próximo
ATIVIDADE TROPICAL ATLÂNTICO
3 ciclones tropicais formaram-se em Junho 2021 no Atlântico (E 1 em Maio), configurando um mês acima da média neste capítulo: Bill, Claudette e Danny (Anomalia maior se considerarmos a Ana que se formou fora de época, em Maio)
Nenhum deles foi particularmente intenso
O ciclone subtropical Ana formou-se no dia 22 de Maio a leste das Bermudas, e rapidamente dissipou
O ciclone tropical Bill formou-se no dia 11 de Junho a leste dos EUA e mais uma vez dissipou sem afetar terra
O ciclone tropical Claudette formou-se pouco depois, no dia 19 de Junho, no Golfo do México tendo depois afetado o Sueste dos EUA causando bastante destruição, não pela intensidade do ciclone em si, mas porque causou uma série de tornados
O ciclone Danny formou-se no dia 28, de forma rápida, e fez landfall logo a seguir na Carolina do Sul, sem intensidade notável
Depois disso formou-se já a Elsa que afetou Caraíbas e algumas zonas dos EUA no início de Julho, tendo sido o primeiro furacão
CALOR RECORDE HEMISFÉRIO NORTE
Para terminar este resumo fica apenas a nota que foi o Junho mais quente já registado no Hemisfério Norte