Degelo: Efeitos na circulação meridional e no clima…

Certamente já ouviram falar que é na região do Ártico que o aquecimento do planeta que estamos a experienciar é mais notório, e isso é verdade
Mas porque razão o clima está em mudança mais rápida no Ártico?
Basta pensarmos de uma forma simples… Certamente sabem que a cor branca reflete a luz\calor, enquanto as cores mais escuras absorvem…
Por essa razão as casas nos locais mais quentes, em Portugal por exemplo no Alentejo, tendem a ser brancas, pois são mais frescas
O que está a acontecer no Ártico é simples: Inicialmente, devido à emissão cada vez mais acelerada de gases com efeito de estufa, o ciclo de aquecimento iniciou-se, e, conforme expliquei este ciclo tende a acelerar uma vez que cada vez há menos gelo, ou seja menos superfície branca refletora, o que por sua vez acelera mais o aquecimento
Ou seja quanto mais gelo derrete, mais rápido o aquecimento, e é esse ciclo que pode despoletar alteraç~es dramáticas
A 30 de Março de 2021, numa altura em que a época de degelo começa, temos níveis de gelo muito abaixo do normal, com previsões para os próximos meses muito desoladoras, sendo prováveis novos mínimos históricos de gelo no Ártico
Vejamos algumas imagens sobre a extensão e concentração de gelo atual no Ártico, antes de um resumo do que poderá acontecer ao clima no hemisfério Norte devido a esta situação
Extensão do gelo no Ártico, abaixo dos níveis médios e até históricos, 31 de Março (ATUAL: Linha azul)
Concentração de gelo no Ártico… Linha cor de laranja indica a média para a época, verificamos muito menos gelo que o normal, e em alguns locais o desaparecimento do mesmo
CIRCULAÇÃO MERIDIONAL DO ATLÂNTICO
Nos últimos meses de 2020 e no início de 2021 foi reportado por vários estudos que a circulação meridional do Atlântico estava em desaceleração rápida – bem mais rápida que o previsto…
A razão? A verdade é que esta circulação é largamente influenciada pelo degelo no Ártico, uma vez que depende muito da salinidade da água
De forma muito simples a circulação meridional do Atlântico atua como um regulador de temperatura dos oceanos, uma vez que é através desta corrente que a água mais quente é transportada para as latitudes mais a Norte, e arrefece, evaporando também um pouco neste processo, o que aumenta a salinidade desta mesma água
Esta água fica então mais densa e “afunda” até que através de um processo denominado de “upwelling” essa água é transportada novamente para a superfície e aquece
Todo este processo é delicado e complexo, e extremamente importante – qualquer pequena alteração pode causar graves mudanças no clima
Com o aquecimento global e maior degelo, e assim também menos água fria, mais densa, esta corrente pode estar em desaceleração rápida, e embora para já não se preveja a curto prazo que venha a parar, a verdade é que os modelos de previsão climática têm estado constantemente errados em relação a esta situação, e prevendo sempre de forma muito otimista
O que aconteceria se a circulação meridional parasse? Não seria bom…
EFEITOS DE UMA CIRCULAÇÃO MERIDIONAL DO ATLÂNTICO ENFRAQUECIDA
Na verdade ninguém sabe exatamente o que poderá acontecer, uma vez que mais uma vez refiro que este processo é extremamente complexo
Ainda assim podemos facilmente chegar a algumas teorias e possibilidades, que já estamos a vivenciar…
Com o enfraquecimento da corrente meridional a água quente tenderá a ficar mais “presa” nas zonas tropicais e subtropicais, e não fluir tanto para Norte, e com isto o risco de furacões mais intensos é uma forte possibilidade
Em alguns locais poderá haver um aumento do nível médio da água do mar, podendo levar a alguns problemas em zonas costeiras, que podem ficar submersas a médio prazo
A corrente de jato pode sofrer uma ACELERAÇÃO no Atlântico em direção à Europa, levando a maior chance de tempestades de Inverno severas, sendo que no Verão o oposto pode acontecer, levando a chances de ondas de calor mais extremo na Europa
Por outro lado a desaceleração desta corrente não tem tudo de mau: Pode ajudar a adiar um pouco o degelo no Ártico uma vez que menos água quente é transportada para essa região – isto é tudo “muito bonito” mas é uma teoria, mas na realidade devido a alterações climáticas, nomeadamente um padrão em que o anticiclone se amplifica mais este efeito benéfico possivelmente será anulado e o degelo continuará em ritmo acelerado
Se a corrente meridional parar totalmente aí poderemos ter um arrefecimento significativo da temperatura do planeta, embora mais uma vez seja algo que pode ser anulado pelo aquecimento anterior, uma vez que esta corrente não é expectável que possa parar a curto prazo – no fundo há coisas que não são previsíveis, e a verdade é que a paragem da corrente meridional do Atlântico iria trazer consequências graves para a vida na terra – e no mar – mas é impossível realmente avançar com uma projeção do que exatamente poderá acontecer
Mas apesar do colapso da corrente meridional teoricamente ter tendência a causar uma era glaciar, com arrefecimento significativo do planeta, o aquecimento antropogénico evitará isso, a longo prazo, uma vez que o aquecimento global é superior ao hipotético arrefecimento causado por este colapso
Em resumo, é tudo muito imprevisível, no entanto o ideal é mantermos o clima sob controlo, pois as consequências podem ser dramáticas
EM RESUMO
- Maiores chances de eventos extremos de chuva, vento e calor na Europa
- Maiores chances de furacões intensos, podendo chegar a latitudes menos comuns
- Subida do nível do mar e inundações em zonas costeiras vulneráveis (Costa leste dos EUA é uma forte possibilidade)
- Ciclo imprevisível, consequências imprevisíveis
- Se houver uma paragem completa da circulação a médio prazo (50 anos), o que para já parece pouco provável pode haver lugar a um arrefecimento do planeta, no entanto este cenário é pouco provável e o aquecimento antropogénico deverá contrariar este possível arrefecimento