Seca no Sul – poderá ser resolvida? – Análise para os próximos meses
Conteúdos
A seca que afeta a região Sul é a mais grave de que temos registo, com barragens em níveis historicamente baixos, uma vez que a precipitação nos últimos anos, e particularmente nos últimos 10 anos tem vindo a diminuir de forma consistente
A que se deve isto? Bem, uma grande parte deve-se às alterações climáticas, e ao aumento de intensidade e expansão do anticiclone dos Açores, conforme é bem visível na carta abaixo, comparando os 10 últimos Invernos, com o período 1941-1970
SECA NO SUL – A CULPA É DO ANTICICLONE
Conforme já referimos anteriormente a expansão do anticiclone dos Açores é a grande culpada pela seca que assola a região Sul
As depressões que habitualmente circulavam mais a Sul, agora circulam muito mais a Norte, e, consequentemente, a chuva que caía a Sul agora tem dificuldade em chegar à região – uma vez que as frentes têm uma orientação predominante de Noroeste para Sudeste, entrando na região do país mais montanhosa, deixando grande parte da precipitação precisamente nessas montanhas
À medida que a chuva desce em latitude no território perde intensidade, chegando ao Sul muito fraca, quando chega
A região Sul depende muito de situações de “cut-off”, ou depressões isoladas, e essas são mais comuns na Primavera, pelo que a dependência do Sul na Primavera para mitigar a seca é uma das questões que mais preocupa – pois a Primavera é altamente imprevisível, e tanto pode ser chuvosa, como seca
Vejamos um exemplo rápido – a carta de previsão do ECMWF para dia 9 de Fevereiro de 2024, mais recente à hora de escrita deste artigo, mostra uma circulação mais baixa, e com possibilidade de chuvas a partir desse dia no território Continental – no entanto reparem que a pressão na região Sul se mantém nos 1020hPA – o que rapidamente dissiparia grande parte ou a totalidade da chuva – é necessário de facto algo extraordinário para que haja precipitação mais intensa na região Sul
MAS O QUE FAZ COM QUE O ANTICICLONE SE EXPANDA TANTO?
Há numerosos estudos e todos concordam que a emissão de gases com efeitos de estufa é o principal “motor” para essa expansão – no entanto o mecanismo pela qual ocorre é ainda algo incerto
No entanto a expansão da “Célula de Hadley” é vista como o motivo principal para esta expansão do anticiclone
CÉLULA DE HADLEY E RELAÇÃO COM SECAS NOS HEMISFÉRIOS NORTE\SUL
A circulação de Hadley é um fenómeno global caracterizado pela ascensão de ar nos trópicos, a altitudes entre os 12 a 15km (tropopausa) e subindo em latitude até aos 25º aproximadamente (em ambos os hemisférios), descendo depois novamente para as latitudes equatorianas, mais próximo da superfície, arrefecendo
É uma circulação que ocorre devido às diferenças de radiação solar entre os trópicos e subtrópicos, com as diferenças de temperatura a levarem às subidas\descidas de massas de ar
Ar quente tende a subir, e é isso que ocorre nos trópicos, como referido, e ar frio tende a descer, e é isso que ocorre à medida que a circulação de Hadley “se propaga” para latitudes a Norte\Sul dos trópicos – no entanto, todos sabemos, o aquecimento global provocado por aumento de gases com efeito de estufa tem aumentado, exponencialmente
Uma vez que os oceanos estão mais quentes nos subtrópicos, e o ar é também cada vez mais quente, há uma maior “resistência” a essa descida da temperatura do ar aquecido que circula na célula de Hadley, e esse ar mais quente consegue cada vez mais expandir-se um pouco mais para Norte\Sul dos trópicos, reforçando os anticiclones subtropicais, como é o caso do anticiclone dos Açores (conforme demonstram vários estudos, como por exemplo AQUI)
Isso leva a secas prolongadas, como a que está a ocorrer na região Sul, mas não só no hemisfério Norte. Sendo algo à escala global no hemisfério Sul o mesmo ocorre, e daí várias regiões de África viverem as piores secas em registo
Todos os estudos indicam que a circulação de Hadley se vai alargar nos próximos anos, assim como os anticiclones subtropicais, por consequência – o que agrava seriamente o risco de secas cada vez mais prolongadas no Sul de Portugal, mas, nos próximos anos, provavelmente, a subir mais para Centro e Norte
PREVISÃO PARA OS PRÓXIMOS MESES – FEVEREIRO – MARÇO – ABRIL DE 2024
Infelizmente as notícias não são animadoras
Fevereiro parece querer seguir um caminho de seca na região, que já não recebe chuva desde dias 18\19 de Janeiro, e estará pelo menos até dias 9\10 sem chuva. Mais de 20 dias seguidos sem chuva, depois de 2 ou 3 com chuva. Tem sido esta a norma
Mesmo que chova entre dias 9 e 11\12 de Fevereiro deverá ser novamente, algo temporário, com provável regresso do anticiclone de seguida
É uma previsão ainda incerta, obviamente, mas corroborada por análise de modelos e padrões atmosféricos
Infelizmente prevemos que Fevereiro tenha temperatura média muito acima do que é normal, e até mesmo uma possível NOVA VAGA DE CALOR para a segunda quinzena
Março, infelizmente, não traz melhor cara – embora em Março já possam surgir algumas depressões isoladas, uma lotaria, pode ser que alguma calhe ao Sul – mas, lá está, regime de chuvas torrenciais a ocorrer que não resolvem secas, só causam prejuízos
Abril não parece vir a ser águas mil – pelo menos em análise inicial – apesar de uma tendência para mais instabilidade que por exemplo em 2023. No entanto prevemos que possa ser um mês de Primavera, com instabilidade ocasional mas vários dias com cheiro a Verão, já
Obviamente que prevemos um Verão quente, com elevada probabilidade de ser um dos mais quentes já registados, o que só agravará o problema
Obviamente que previsões a esta distância correm o risco de estarem erradas – a atmosfera por vezes surpreende – no entanto o grau de probabilidade e confiança na persistência da seca a Sul, e agravamento da mesma, é elevadíssimo, sendo que infelizmente para 2025 a situação deverá agravar significativamente
Poderá encontrar previsões a longo prazo atualizadas AQUI
QUAIS AS POSSÍVEIS SOLUÇÕES?
A realidade é esta: A seca a Sul é crónica, e o clima será desértico nos próximos anos (Está muito perto de o ser), logo as únicas soluções serão de mitigação do problema, através de métodos que possam levar água à região, e poupança da mesma
Obviamente que tudo isto deveria já ter sido pensado dado que a situação estava prevista – e as soluções não são muito “verdes”, como por exemplo as centrais de dessalinização, com elevado consumo de energia para a sua utilização, e a criação de resíduos potencialmente tóxicos, alterando a vida marinha, por exemplo – tudo isto contribuiu para agravar o problema a longo prazo, enquanto se tenta corrigir a curto prazo
Infelizmente, Portugal, nos próximos anos, pela já referida expansão anticiclónica, corre o risco de ver outras regiões secarem, também, pelo que tudo o que se faça agora pode ser anulado pelas alterações a médio prazo
Assim o essencial é reduzir as emissões, e tratar a raiz do problema: O aquecimento global
A seca a Sul é um problema grave, mas mais grave que isso são as alterações climáticas que a provocam – enquanto a seca Sul afeta menos de 1 milhão de pessoas, TODOS somos afetados pelas alterações climáticas – é urgente ação séria, e não palavras em vão
NOTAS FINAIS E FONTES USADAS PARA A INFORMAÇÃO
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