Alterações climáticas – frequência das ondas de calor aumentou drasticamente nos últimos 20 anos, assim como a intensidade – saiba os dados climáticos na sua região!

Conteúdos
Quando prevemos ondas de calor como a que deveremos registar nos próximos dias temos sempre as mesmas reações – “Mas não é Verão?” “Sempre foi assim!” “Parem de exagerar, é Verão!” e… por um lado, sim, é verdade, é Verão, e faz sentido haver calor – é a estação “dele”
Contudo se formos consultar os registos chegamos a algumas conclusões interessantes – a frequência das ondas de calor aumentou, em alguns locais de forma drástica nos últimos 20 anos, devido às alterações climáticas – de tal forma que em alguns locais registaram-se mais ondas de calor entre 2000 e 2023 que no período entre 1941 e 2000…
Já iremos a mais dados, mas, para já, basta olhar a este gráfico do IPMA, que se refere ao número de ondas de calor entre 1941 e 2023 em cada Verão (anos mais recentes do lado direito da imagem, legenda no canto direito) e a conclusão é muito fácil de tirar!

FREQUÊNCIA DAS ONDAS DE CALOR – UMA ANÁLISE REGIONAL NOS ÚLTIMOS 80 ANOS – ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS
Comecemos por olhar a dados de algumas estações meteorológicos, sabendo também que a definição de uma onda de calor é, segundo a OMM, 6 dias consecutivos com temperaturas pelo menos 5ºC acima da média climática
Olhemos primeiro ao INTERIOR NORTE e aqui vamos olhar a 2 estações meteorológicos – a capital de distrito, BRAGANÇA, e um local habitualmente muito quente na região – PINHÃO
Comecemos então por Bragança – entre 1941 e 2000, segundo os dados IPMA, registam-se 23 ondas de calor, enquanto entre 2000 e 2023 se registam… 27
Assim podemos concluir que nos 60 Verões entre 1941 e 2000 se registaram menos ondas de calor que nos 24 Verões entre 2000 e 2023 – ou seja nota-se aqui um aumento da frequência drástico! Mas para podermos fazer um cálculo de aumento de percentagem escolhemos o período 1941-1964 (os mesmos 24 anos) para comparação e aqui encontrámos… 10 ondas de calor
Assim concluímos que, para BRAGANÇA, no mesmo período de 24 anos, tivemos um aumento de 170% na frequência, quando comparando os períodos 1941-1964 e 2000-2023
Em Pinhão, entre 1941 e 1964 foram registadas 21 ondas de calor, e entre 2000 e 2023 foram registadas 31 – um aumento de 48%
Para “representar” o litoral, nesta análise, escolhemos Porto (São Gens) e Lisboa (Instituto Geofísico)
A razão para a escolha destas estações é porque representam as duas maiores cidades Portuguesas, e porque são estações com dados até 1941, ao contrário de outras
Assim, olhando primeiro para o PORTO, observámos que tivemos 5 ondas de calor entre 1941 e 1964, e 9 entre 2000 e 2023, um aumento de 80%
Para LISBOA contabilizamos, curiosamente, o mesmo número de ondas de calor em ambos os períodos – 5 entre 1941 e 1964, e 9 entre 2000 e 2023, o mesmo aumento de 80%
Em todas as estações do litoral disponíveis na base de dados IPMA observamos um aumento da frequência das ondas de calor quando comparando estes dois períodos
Para completarmos esta análise, escolhemos mais duas estações no Interior Centro e Sul – Castelo Branco, e Mértola
Em Castelo Branco observámos que foram registadas 6 ondas de calor entre 1941 e 1964, e 20 entre 2000 e 2023 – um impressionante aumento de 233%. Já em Mértola registaram-se apenas 4 ondas de calor entre 1941 e 1964, e 20 ondas de calor entre 2000 e 2023 – um aumento ainda mais incrível, de 400%
Em todas as estações meteorológicas disponíveis na base de dados do IPMA verifica-se um aumento da frequência da ocorrência de ondas de calor
Contudo… E em relação à duração das mesmas? Ora o IPMA disponibiliza também um gráfico que nos mostra o número de dias que um local esteve em situação de onda de calor ao longo de um determinado Verão, e aí é ainda mais drástica a diferença dos períodos mais recentes em análise, em comparação com períodos mais “antigos”

Podemos ver que em termos de número de dias em ondas de calor é o Interior Norte e Centro que mais registou um aumento nos últimos anos! 2022 sobressai nesta lista, com alguns locais mais de 40 dias em onda de calor, cerca de metade do Verão!
Mas em todas as regiões do país se verifica um aumento que varia entre 20% a mais de 400%
É fácil de concluir que a frequência das ondas de calor está a aumentar, sendo que a intensidade das mesmas também aumenta – com quase todos os recordes de temperatura das estações meteorológicas em Portugal a terem sido registados no século XXI, e uma grande parte depois de 2015 – nos últimos 10 anos
Recordámos que o valor máximo já registado em Portugal é de 47,3ºC, na Amareleja, em 2003

O QUE ESPERAR NO FUTURO?
Teremos certamente um aumento da frequência das ondas de calor, assim como intensidade das mesmas. No entanto temos de perceber que a média também vai mudando – recentemente passámos a utilizar a média climática 1991-2020, mais recente, pelo que para atingir uma situação de onda de calor é necessário que as temperaturas sejam mais elevadas, pois a média também é
Assim é fácil também de perceber que as ondas de calor atuais são mais severas que há 50\60\70 anos atrás, uma vez que para serem oficialmente registadas têm de estar acima da média mais recente, e não uma média mais antiga – se usarmos como base o período pré-industrial estaríamos (quase) sempre em onda de calor
Por isso temos de ver as coisas com a devida precisão – se agora estamos em onda de calor, significa que em relação aos últimos 30 anos as temperaturas estão muito acima da média. E, se as médias têm vindo a subir isso significa que as ondas de calor são mais intensas, com valores extremos mais elevados
Infelizmente estamos a caminho de ultrapassar permanentemente 1.5ºC de aquecimento a nível global, em relação à média pré-industrial, possivelmente até mesmo 2ºC. Por essa razão acreditamos que, em Portugal, com o mar a aquecer, e com todas as previsões a apontar no mesmo sentido, as ondas de calor vão aumentar, e também será uma questão de tempo até registarmos 50ºC no nosso país
Contudo há incertezas, como em tudo na ciência (ou quase tudo), e há sinais que indicam que um colapso da “corrente de capotamento do Atlântico”, ou AMOC, poderia levar a um arrefecimento drástico na Europa – mas esse cenário queremos evitar a todo o custo, pois seria desastroso

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