As previsões meteorológicas nunca serão perfeitas – e estas são as razões!

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Praticamente toda a gente verifica as previsões meteorológicas e espera que estejam corretas: afinal de contas a tecnologia é cada vez maior, pelo que haverá cada vez menos falhas, certo? Mais ou menos…
Todos querem saber se poderá chover, se haverá muito vento, se haverá trovoadas – enfim tudo aquilo que, no fundo, afeta o dia a dia e nos obriga a preparar – seja para escolher que tipo de roupa usar, ou se levamos um guarda-chuva para a rua, ou para organização de eventos, por exemplo
Mas, por muito rigorosos que os meteorologistas sejam nas suas análises, temos sempre de lembrar que nenhuma previsão é perfeita, e nunca será. Porquê? Bem, por várias razões
Há 3 razões fundamentais que acabam por limitar a precisão de uma previsão meteorológica: a resolução dos modelos, a assimilação de dados e integração no modelo meteorológico, e a nossa compreensão da atmosfera – que cada vez se torna mais complexa com as alterações climáticas

RESOLUÇÃO DOS MODELOS – É IMPOSSÍVEL CAPTAR TODOS OS DETALHES!
Os modelos meteorológicos na elaboração das previsões\simulações dividem a atmosfera em grelhas, com resoluções que variam de modelo para modelo – modelos globais geralmente com resoluções mais altas, e modelos HD\regionais com resoluções mais baixas
Contudo mesmo os modelos regionais não conseguem, obviamente, captar todos os detalhes e fenómenos como trovoadas ou outras situações convectivas ocorrem no geral em escalas inferiores à resolução dos modelos
Os modelos meteorológicos tentam “adivinhar” no fundo o que poderá ocorrer, e isso tende a criar generalizações que criam erros bastante significativos – por exemplo um modelo pode prever condições para trovoada num determinado local, e devido à resolução pode acabar por generalizar essa trovoada a muito mais locais do que acaba por ocorrer – isso é algo bastante comum!
Quanto maior for a resolução horizontal e vertical de um modelo, maior a precisão do mesmo, assim como capacidade para prever fenómenos localizados – mas tudo isso exige muito maior poder computacional
As execuções deterministas\operacionais dos modelos acabam por ter de equilibrar resolução e frequência das atualizações para gerar previsões que possam ser úteis, mas que não consomem demasiados recursos – e isso torna impossível executar modelos com resolução semelhante aos modelos regionais para uma escala global
ASSIMILAÇÃO DE DADOS – NÃO TEMOS DADOS EM MUITOS LOCAIS!
Nenhum modelo meteorológico “inicia” a sua simulação com conhecimento total da atmosfera – isso é impossível, e na verdade, sempre será!
A assimilação de dados é feita através de observações de satélite, radares, estações meteorológicas, bóias e sondas atmosféricas, além de dados vindos de aviões por exemplo – mas não são suficientes – há locais onde não há observações, e os modelos iniciam com uma aproximação para esse local
É por essa razão que os erros nas condições iniciais são inevitáveis. Pequenas diferenças nas condições iniciais podem amplificar-se rapidamente – certamente já ouviu falar no efeito borboleta. Um pequeno erro nos dados iniciais, seja uma medição de vento, pressão ou temperatura, pode alterar drasticamente a simulação a curto\médio prazo
Os modelos mais avançados como ECMWF (IFS) utilizam técnicas como 4DVAR para assimilar dados de forma mais contínua, e minimizar erros, contudo continuam a não ser técnicas perfeitas
Quando combinamos múltiplas execuções de uma simulação de um determinado modelo, com condições iniciais ligeiramente diferentes para tentar minimizar estes erros, obtemos um ensemble, e conseguimos observar melhor a incerteza e obter previsões probabilísticas – mas não passam de probabilidades – e algo que tem 1% de probabilidade pode vir a ser o correto…

LIMITE DO NOSSO CONHECIMENTO DA ATMOSFERA – AS PREVISÕES METEOROLÓGICAS NUNCA PODEM SER PERFEITAS!
A atmosfera é um sistema dinâmico e “caótico”, com diversas variáveis interdependentes, como temperatura, pressão atmosférica, humidade, radiação abosrvida\refletida, vento, e ainda outras coisas mais complexas, a nível microfísico
Alguns destes processos ainda não são totalmente compreendidos, pelo que não podem ser programados nos modelos de forma 100% correta – e, quando se junta erros na nossa compreensão da atmosfera, aos erros gerados pela resolução e assimilação de dados anteriormente referidos, as previsões tornam-se menos fiáveis
Apesar de avanços significativos nos últimos anos, os modelos ainda não podem prever com elevada precisão além de cerca de 7 dias, com a confiança das previsões a diminuir rapidamente após esse período (a que chamamos período de previsão útil)
E as previsões sazonais\climáticas, podem ser fiáveis? Em parte, sim, mas são ainda mais limitadas – baseadas em tendências estatísticas e cenários análogos por exemplo, e não simulações exatas (no geral, há modelos que efetivamente tentam simular a longo prazo, mas a resolução tem de ser extremamente baixa devido à capacidade computacional, pelo que se tornam pouco fiáveis)
Com as alterações climáticas, há cada vez mais novas incertezas a serem introduzidas: mudanças na circulação atmosférica, nos padrões climáticos, no comportamento de anticiclones ou do jet-stream\corrente de jato. Essas transformações tornam mais difícil para os modelos preverem certas situações, exigindo constantes alterações e atualizações dos mesmos
Na Luso Meteo tentamos sempre usar vários modelos (ECMWF, GFS, ICON, entre outros) e recorremos aos ensembles para tentar verificar todas as possibilidades. Ainda assim, quando existe divergência entre os modelos ou elevada incerteza no ensemble, a incerteza das previsões aumenta – e geralmente explicamos isso nas nossas previsões. Por exemplo para dias 5 de agosto em diante ainda não temos certeza na continuação do calor – há demasiada incerteza!

Nunca atingiremos a perfeição – isso é algo que parece óbvio. E a inteligência artificial pode até ajudar em alguns casos, mas nunca substituirá o “toque humano” que consegue perceber mais facilmente alguns “biases” dos modelos, e filtrar previsões que estão claramente erradas!
Temos de aceitar que a incerteza é é parte de uma previsão, e temos de ser sempre honestos, e dizer quando existem incertezas, pois isso torna uma previsão muito mais válida do que “prometer” algo que não temos a certeza que se irá cumprir…
Muito obrigado pela leitura deste artigo, que esperamos que lhe seja útil!
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