Jet-stream: O que é, e porque é tão importante

Praticamente todos as previsões meteorológicas este Verão, ou notícias sobre eventos extremos, têm mencionado a corrente de jato, e as suas perturbações\ondulações…
Para percebermos o que é o jet-stream, e como influencia o tempo temos de perceber que no fundo o jet-stream é basicamente a peça fundamental, pois é essa corrente que cria e “conduz” todas as peças do “puzzle” atmosférico…
O QUE É?
A corrente de jato é um núcleo de ventos entre os 10-14 kms de altitude, que sopram (habitualmente) de Oeste para Leste
Essa corrente afeta o tempo em muitas formas, uma delas é a forma como altera a circulação das tempestades, e dos anticiclones – uma corrente de jato mais “reta” e mais forte ajuda a que uma tempestade se mova mais rápido, e também podendo fortalecer a mesma, enquanto um jet-stream mais fraco torna o movimento das depressões mais errático, criando sistemas de alta pressão que afastam essas depressões
De uma forma geral no Verão a corrente de jato tende a ser mais fraca e no Inverno mais forte
Por vezes, especialmente quando ocorrem perturbações que alteram os ventos em altitude, a corrente de jato pode assumir uma direção Este-Oeste (É assim que se formam as “bestas de leste” no Inverno, com o frio Continental a chegar à Europa Ocidental, por exemplo)
COMO SE FORMA A CORRENTE DE JATO?
A corrente de jato forma-se devido às diferenças de temperatura entre as latitudes tropicais, subtropicais e polares
No Verão essa diferença de temperatura tende a ser menor (devido ao aquecimento nos pólos) e por isso é normal que a corrente de jato enfraqueça e suba em latitude
No nosso planeta o sol não aquece todos os locais de forma igual,, devido à incidência solar ser variável ao longo do ano, e de região para região… Assim nas zonas com ar mais quente o ar tende a subir em altitude, e nas zonas com ar mais frio o ar tende a afundar, e isto cria correntes, ou ventos… O jet-stream é um deste tipo de correntes… Podemos assim dizer que a corrente de jato é criada pela radiação solar, e também pela “força de Coriolis” ou seja a rotação do planeta no seu eixo
No Inverno a corrente de jato tende a ficar mais forte e mais baixa em latitude, afetando habitualmente Portugal e outros países do sul da Europa com chuvas e tempestades, por vezes
A corrente de jato é também responsável pelo calor no Verão, e recentes eventos têm sido ligados a essa mesma corrente
O calor extremo nos Estados Unidos, em que vimos um bloqueio “em Ómega” foi propiciado por uma corrente de jato a curvar para Norte no Pacífico Nordeste, erguendo uma crista anticiclónica, e depois a curvar para sul sobre o Nordeste dos Estados Unidos, formando efetivamente um “ómega” e uma cúpula de calor…
Isto deve-se ao simples facto de os sistemas atmosféricos, como anticiclones, estarem “isolados” da corrente de jato, e permanecerem estacionários
QUANTAS CORRENTES DE JATO EXISTEM?
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Existem 2 (4) correntes de jato: Polar e subtropical, para ambos os hemisférios
Estas correntes de jato podem mover-se em latitude, desposicionar-se temporariamente, quebrar, dividirem-se, podem mesmo unir-se (Corrente de jato polar com subtropical), mas no geral pode-se dizer que são estas as correntes dominantes no planeta
Existem no entanto outras correntes mais fracas e mais regionais, por vezes, como por exemplo correntes “de baixa altitude” que se formam por vezes devido ao arrefecimento noturno (Contrariamente às correntes de jato dominantes formam-se a 1500m de altitude, aproximadamente)… São comuns por exemplo nas planícies dos Estados Unidos da América
A corrente de jato subtropical existe em altitudes um pouco mais baixas que a polar (8-10kms para a subtropical e 10-14kms para a polar)
ONDAS DE ROSSBY
Ondas de Rossby, ou ondas planetárias, são ondas de larga escala que existem em fluídos (E a atmosfera é um fluído…) e são responsáveis pelas oscilações da corrente de jato, ou melhor pelas suas ondulações
As ondas de Rossby são causadas pelas oscilações da rotação da terra, ou efeito de Coriolis, com a latitude
Por essa razão formam-se gigantes “meandros” que afetam as correntes de jato
Por exemplo por vezes acontece a corrente de jato “partir”, quando por exemplo uma porção da corrente mergulha para Sul, enquanto outra porção sobe… Isso habitualmente cria uma zona de frio em altitude (É assim que se formam as famosas cut-off de Verão, que provocam muitas vezes trovoadas)
EFEITOS DO OCEANO: ENSO (El Niño\La Niña)
El Níño é definido por água mais quente que o normal no Pacífico equatorial leste
La Niña é o oposto (água mais fria)
Nos próximos meses existe forte probabiliade de entrarmos em “La Niña”
De uma forma resumida em condições de El Niño temos uma corrente de jato tendencialmente mais a Sul, e um pouco mais fraca
Tendencialmente isso causa maior probabilidade de ondas de calor intenso, com maior probabilidade de sistemas “estacionários”, assim como episódios de chuva excessiva
Tipicamente a atividade tropical é mais reduzida no Atlântico devido a maior “wind-shear”, ventos divergentes…
Por outro lado há mais atividade, tipicamente, no Pacífico
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Em condições de La Niña a corrente de jato tipicamente circula mais a Norte, com tendência para mais atividade tropical, e Invernos mais chuvosos na Europa, pelo menos na Europa de Norte e Central
Em Portugal existe a tendência para, pelo menos estatisticamente, e nos últimos anos, os Invernos tenderem a ser mais secos devido a uma resposta de “feedback” do anticiclone dos Açores com uma dorsal africana resultante desse mesmo jet-stream
VÓRTICE POLAR E JET-STREAM
O vórtice polar e a corrente de jato estão intrínsicamente ligados, sendo muitas vezes confundidos
O vórtice polar é uma zona de baixas pressões em altitude, contida nos pólos, e que existe sempre, mas está mais forte no Inverno e mais fraco no Verão
Normalmente não tem grande influência na corrente de jato, embora quando o vórtice está muito forte haja maior tendência para a corrente de jato polar ficar mais a Norte e menos ondulada, o que diminui chances de tempo extremo e frio em zonas menos habituais
No Inverno muitas vezes perturbações da troposfera expandem para a estratosfera e perturbam o vórtice polar que se desposiciona, ou mesmo quebra… Depois o oposto pode ocorrer, com a perturbação a expandir para a troposfera, e aí sim pode afetar a corrente de jato de forma mais significativa… Por vezes leva a alterações profundas como massas de ar frio a descerem para zonas pouco habituais, ou correntes de leste que transportam esse frio para zonas raras (as chamadas “bestas de leste” na Europa) em que ar siberiano é transportado para o centro\oeste Europeu
Em jeito de resumo podemos dizer que a corrente de jato é uma das mais importantes componentes numa previsão meteorológica
Muitas vezes olhando apenas a uma carta com essa previsão conseguimos dizer como vai estar o tempo, aproximadamente, numa determinada região
IMPACTOS NA AVIAÇÃO
Visto que os aviões voam normalmente na mesma altitude em que as correntes de jato existem estas têm enorme impacto no planeamento de vôos, podendo às vezes evitar-se a corrente para evitar turbulência, ou por outro lado quando a corrente é favorável aproveitar para poupar combustível (E tempo!)
Uma viagem dos Estados Unidos para Portugal é tipicamente mais rápida que uma viagem em sentido oposto
Isto porque a corrente de jato circula de Oeste para Leste
ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS
Infelizmente as alterações climáticas estão a alterar drasticamente esta corrente de jato
Há indicação clara para maior desaceleração no Verão (pode estar ligado ao aquecimento do Ártico e menor gelo) o que pode levar a mais episódios extremos
E cada vez mais quebras do vórtice polar ocorrem nos Invernos, que levam a alterações profundas no jet-stream (O que aumenta a possibilidade de tempestades e frio extremo em locais pouco habituais), mas também bloqueios anticiclónicos mais intensos e secas
Bom comentário