Bloqueio Atmosférico – Vêm aí uns dias quentes, mas rapidamente voltamos ao mesmo… O que se passa, afinal? Explicação e previsão

Nos últimos 2 meses, aproximadamente, temos assistido a um bloqueio atmosférico, que tem levado a que o tempo em Portugal se mantenha, persistentemente instável, húmido e chuvoso – o que por um lado é uma excelente notícia, estando agora as nossas albufeiras em níveis que não víamos há muito tempo, mas, por outro lado, começa já a ser demais

De facto estamos agora a meio de Maio, e continua sem haver perspetivas claras de quando poderá haver uma mudança neste regime atmosférico – sendo que o calor que vai surgindo é sempre muito ocasional e tem antecedido, inevitavelmente, a chegada de uma nova depressão\perturbação, que nos traz novamente instabilidade – não temos mais de 2\3 dias de tempo estável consecutivamente

E se é verdade que o tempo está agora a estabilizar, e começaremos um período mais estável e quentinho a partir de quinta-feira – com calor nos dias seguintes – também é verdade que já no fim-de-semana o tempo volta a mudar, e domingo poderá já ficar marcado por alguma instabilidade, com possibilidade de aguaceiros e trovoadas localizados em dia de eleições legislativas – embora não deva ser nada muito significativo

Uma tendência para o afastamento das altas pressões para Norte tem levado a esta situação, e não há ainda um sinal de quando este padrão irá mudar – e neste artigo iremos analisar os vários fatores que podem estar a contribuir para isto – NAO, ENSO, MJO, AAM… Já explicaremos o que tudo isto quer dizer!

Para já resta referir que, apesar da incerteza, os modelos meteorológicos insistem que Maio pode terminar com instabilidade – mas já iremos comparar 2025 com um dos anos mais parecidos em termos de regime atmosférico com este, e tentar tirar “conclusões” daí…

RESUMO DE PREVISÃO DO TEMPO – SEGUNDA QUINZENA DE MAIO E O QUE PODE VIR DEPOIS

A segunda quinzena de Maio continuará a trazer instabilidade, com o período 15 a 17 de Maio a ser mais estável, e o período 18 a 20-22 de Maio a ser, potencialmente, mais instável, novamente, em Portugal Continental

Depois disso as previsões dividem-se, sendo possível a chegada de nortada, tempo relativamente fresco, intercalado com dias com alguma instabilidade, e um pouco mais quentes – digamos que não muito diferente do que é habitual para Maio, no entanto

E se o início de Junho promete mais do mesmo, ainda tempo algo instável e não muito definido, ao longo de Junho parece “prometida” a instalação do Verão em força – mais tarde ou mais cedo. Apesar dos modelos meteorológicos apontarem a segunda semana para a mudança mais significativa, não descartamos que se possa atrasar um pouco mais

2025 segue “colado” a 2017 em alguns regimes atmosféricos, pelo que temos de verificar como evolui este ano, em comparação com 2017 – um ano que trouxe um Verão extremamente quente. E, embora estejamos a prever um Verão muito quente, de facto, para já não há razão para alarme – previsões a esta distância tendem a ter mais falhas

Contudo devemos estar preparados para mudanças significativas ao longo de Junho – o que é normal, claro – mas também para uma mudança mais brusca, do 8 ao 80, a qualquer momento, ao longo desse mês – há muito calor em África pronto para subir em latitude, e trazer-nos um Verão a “tostar”, será uma questão de quando…

Para já, no entanto, seguirá a instabilidade!

BLOQUEIO ATMOSFÉRICO PERSISTENTE – AS CAUSAS E EFEITOS

Já aqui falamos várias vezes sobre o que pode estar a causar este bloqueio, e de facto a combinação de La Niña (fase negativa da ENSO), em conjunto com um vórtice polar que quebrou muito cedo em 2025, e não recuperou, são dois dos fatores que têm levado a que este padrão acabe por dominar

No fundo estamos com uma situação em que os ventos Oeste no Atlântico tentam “vencer” e empurrar as depressões para Norte, levando ao surgimento do anticiclone dos Açores em direção à Europa, algo natural nesta altura do ano. Contudo este mesmo anticiclone acaba por ficar bloqueado e subir para Norte pois temos ainda influência dos ventos leste sobre a Europa, em consequência do aquecimento súbito da estratosfera de Março

Isto significa que no fundo temos uma batalha entre os ventos Oeste, tipicamente dominantes nas latitudes médias da troposfera, e os ventos de Leste – e nenhum acaba por “vencer”, digamos, levando então a este bloqueio – com o anticiclone a subir em latitude, e as eventuais depressões que circulariam em latitudes mais elevadas, acima de 50ºN, a serem substituídas pelas altas pressões, que forçam ar mais frio e instabilidade mais para Sul

Se em Março e Abril tínhamos condições para formação de ciclones e tivemos, assim, várias depressões nomeadas, agora temos situações de instabilidade principalmente devido a depressões com expressão em altitude – com a atividade ciclónica a reduzir, como é normal

Contudo é evidente que estamos a ter um Maio menos típico na Europa, com temperaturas abaixo da média em grande parte do Continente!

2017 E 2025 – DOIS “ANÁLOGOS” EM MUITOS ASPETOS – O QUE ISTO PODE QUERER DIZER?

Em termos de comparação da evolução de vários padrões atmosféricos, 2017 e 2025 são dois dos anos mais semelhantes que podemos verificar – tanto a nível de regime atmosférico verificado durante o mês de Maio regionalmente (sobre o Atlântico e Europa), como global

Tanto em 2017 como em 2025 tivemos uma fase de ENSO neutra na primeira metade do ano (Nem El Niño nem La Niña foram observados), e a MJO estava também numa fase “bloqueada” e pouco ativa – tal como em 2025

Sobre a Europa Ocidental, durante Maio, foi havendo instabilidade, e tempo fresco, com o domínio de alta pressão em latitudes elevadas, à semelhança de 2025

Podemos falar, de facto, em muitas semelhanças – contudo não podemos, a partir daqui, dizer que tudo vai evoluir como em 2017 – um ano em que tivemos um Verão tórrido em Portugal (e na Europa, em geral). No entanto é algo a que teremos de estar atentos, certamente – uma viragem terá de ocorrer, e tendo em conta o que vamos vendo poderá ser repentina – as temperaturas estão 2\3ºC abaixo da média, e poderá ser “compensado”, depois, com anomalias semelhantes em sentido contrário

Na meteorologia não gostamos de usar o termo “lei da compensação”, mas a verdade é que muitas vezes é o que acontece – períodos muito secos podem ser seguidos por períodos muito chuvosos, e períodos mais frescos que o normal podem ser seguidos por períodos muito mais quentes que o normal. E, então, e novamente sem fazer mais comparações com 2017, um ano terrível em Portugal por diversas razões, no Verão, é melhor estarmos preparados para um Verão bem quente…

UM VERÃO MAIS TARDIO, OU ESTAMOS APENAS COM UMA FASE ENGANADORA?

Uma grande diferença entre 2017 e 2025 tem a ver com um fator extremamente importante na evolução do estado do tempo em várias partes do hemisfério Norte – o vórtice polar, que tem tido um comportamento invulgar este ano

Há também semelhanças, sendo que em 2017 tivemos um vórtice polar bastante forte no início do ano, tal como em 2025 – mas há uma grande diferença, e na realidade não temos uma comparação para o que aconteceu em 2025 – o vórtice polar desapareceu no início de Março, naquilo que se viria a confirmar como o aquecimento final da estratosfera

Todos os anos, em preparação para o Verão, entre Abril e Maio o vórtice polar desaparece, algo natural com o surgimento de mais sol no Ártico, o equilíbrio de temperaturas, enfim, um processo complexo, mas algo previsível, tendo em conta o movimento de translação da Terra. Mas em 2025 este aquecimento final ocorreu em Março, o que, sem dúvida, tem desempenhado um papel crucial na manutenção do tempo mais instável

O AAM, ou “Atmospheric Angular Momentum”, momento angular da atmosfera, refere-se às variações da velocidade de rotação das massas de ar na atmosfera – sendo algo muito complexo, e sobre o qual não vale a pena falar muito em pormenor nesta publicação. Contudo digamos que quando temos AAM negativo sobre determinada região, temos uma tendência para os ventos soprarem de Leste para Oeste, e quando temos AAM positivo temos tendência para os ventos soprarem de Oeste para Leste

AAM negativo é frequente nos trópicos durante períodos de La Niña. Tanto a nível global como regional a velocidade de rotação das massas de ar na atmosfera (e da própria Terra) influenciam o estado do tempo, e recentemente os modelos meteorológicos começam a implementar cada vez mais este fator nas previsões de alta resolução, tentando minimizar os erros de previsão. Contudo continua a ser algo difícil de prever!

Na nossa região tem dominado AAM negativo, muito por culpa do já falado vórtice polar, e por fricção na movimentação das massas de ar, e isso tem sido certamente um grande contributo para o bloqueio já referido. Contudo, as previsões a médio-longo prazo – 15-30 dias de distância – começam a apontar para uma viragem…

Isso reflete-se nas previsões à superfície para a segunda semana de Junho – com o surgimento de alta pressão em latitudes mais a Sul, anomalias de geopotencial positivas, e mais calor – curiosamente semelhante a 2017, tendo sido também nessa semana que, repentinamente, o calor começou a aparecer

Teremos uma repetição, ou as previsões continuarão a adiar o Verão? Vamos ver… É certamente uma possibilidade, mas também temos de estar preparados para a chegada do Verão “com tudo”, mais tarde ou mais cedo – naquele que prevemos ser um Verão, de uma forma geral, bastante quente

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