Os opostos nas Américas: Frio extremo no Brasil, calor extremo nos EUA

Tem sido um Verão marcado por situações absolutamente anómalas um pouco por todo o globo, e é inegável que as alterações climáticas têm um papel dominante
Desde aquele grau extra que faltava para os recordes serem quebrados, aquele grau extra que permite uma maior quantidade de água disponível para precipitar, aquele grau extra que desacelera as correntes de jato porque desiquilibra o gradiente térmico entre o Ártico e o subtropical, tudo isso influencia aquilo que vamos vivenciando este Verão
A questão que se coloca é: Se com 1º de aquecimento global estamos assim, como estaremos com 2\3\4?
O Ártico aquece mais rápido, devido a vários mecanismos de feedback, pelo que o impacto é maior, pois o Ártico é o “motor” do clima, no hemisfério Norte
Temos notado este Verão situações que sem alterações climáticas seriam “impossíveis”, como os valores recorde no Canadá, por exemplo
Essa situaçáo pode ser explicada pela La Niña, um anticiclone bem estabelecido na Costa Noroeste dos EUA, mas que num clima “normal” teria sido mais uma onda de calor… quente, mas normal… Com as alterações climáticas aquele bocadinho que faltava para que fosse uma situação mais extrema passa a ser possível, cada vez com mais facilidade… de 1 em cada 1000 anos, para 1 em cada 100, cada 10… até que rapidamente acontece todos os anos e passa a ser o novo “normal”… Se nos conseguirmos adaptar pois uma mudança tão brusca quanto aquela a que estamos a assistir leva a que os seres vivos e os ecossistemas tenham muita dificuldade em conseguir adaptar-se tão rapidamente, facto agravado por ecossistemas já fragilizados por outros factores (particularmente por consequências da ação humana)… Esta dificuldade de adaptação também se faz sentir a nível humano, quer a nível de saúde, quer a nível de construção/ordenamento do território, ou da implementação das mudanças estruturais necessárias… sendo que se revelam fundamentais ações céleres mas bem ponderadas e uma mudança de paradigma…
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Mas voltando ao tema deste artigo, como estará o tempo nos próximos tempos nestas regiões?
Começo precisamente pelos EUA, onde segundo o modelo ECMWF um padrão anómalo irá reinar mais alguns dias, com temperaturas que desta vez até podem nem ser recorde, mas ficarão perto…
Vejamos a previsão de anomalia pelo modelo IFS @ Meteologix
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Pelo menos até ao fim do mês o Norte dos Estados Unidos, e também parte do Canadá, recebem valores até 10 graus acima do normal. Recordes regionais de temperatura podem cair…
Continua sem haver precipitação nas zonas críticas, e os mais de 100 incêndios que lavram sem parar vão continuar a fazê-lo, inevitavelmente, libertando uma quantidade incrível de gases nocivos para a atmosfera, que acabam por viajar centenas de kms, cobrindo Nova Iorque de fumo e chegando mesmo à Europa!
Aliás nos últimos dias tivemos um recorde de Aérossois na atmosfera, precisamente devido a estes incêndios nos Estados Unidos e Canadá
Continuaremos nos próximos dias com calor, mas estou particularmente interessado no output das 12z de dia 26\07\2021 do ECMWF… Por vezes a 10 dias este modelo capta detalhes da atmosfera que mais nenhum consegue, e prevê uma onda de calor em latitudes muito a Norte no Canadá… Nada bom, esperemos que possa ser apenas um delírio!
E NO BRASIL? FRIO EXTREMO?!
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Sim, o sul do Brasil com frio extremo, o Hemisfério Sul tem sido bombardeado por massas de ar frio vindas da Antártida nos últimos tempos, que afetam Austrália, África do Sul, Brasil…
Em particular a previsão para os próximos dias no Brasil indica valores muito baixos… até 15 graus abaixo da média, e até -10º de temperaturas mínimas
Podem ser valores recorde? Sim, localmente serão, certamente
Geadas devem continuar a ser frequentes, pois a chuva está ausente, boa parte das regiões estão em seca, e as producões de café, laranjas, entre outros produtos agrícolas sofrem imenso – fala-se já em subida de preços de alguns destes alimentos
QUAL A RAZÃO PARA TANTO FRIO?
Para entendermos temos de perceber o que é o jet-stream
A corrente que “guia” depressões e anticiclones tanto no hemisfério Norte, como Sul
Neste momento no Brasil, hemisfério Sul, é Inverno
Ora o jet no Inverno é obviamente mais forte
Isso é visível na seguinte imagem (ClimateReanalyzer)
O Vórtice Polar Antártico está enfraquecido este ano, e ao que parece, desposicionado, levando a algumas alterações, que estão a ser pouco compreendidas à medida que vão sendo estudadas
Álgumas áreas de pressão alta têm sido mais persistentes, empurrando o ar frio para Norte de forma mais intensa. Isto é aliado também ao facto da Antártida estar a ter um ano com bastante gelo, e com temperaturas abaixo do normal
Todos estes fatores levam a que estas “cold blasts” estejam a ser mais intensas que o habitual
Não é surpreendente continuar a ver recordes de frio no Hemisfério Sul
No entanto este mesmo mecanismo é também responsável pela seca na África subequatoriana – e pela fome extrema que esta está a causar, afetando milhões de pessoas…
Não há chuva à vista… (Reparem ali na zona tropical os sinais de convecção intensa a surgirem no entanto… indicando furacões a caminho para o Atlântico agora que a fase positiva de MJO saiu finalmente do Pacífico…)
Como podemos observar as alterações climáticas podem trazer impactos a nível global, com extremos um pouco por todo o lado, sendo verdadeiramente urgente tomar medidas concretas para minimizar os impactos e termos um mundo mais sustentável, procurando evitar que a situação se agrave e que as alterações se tornem cada vez mais incomportáveis para a vida humana, e para os ecossistemas
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