Uma grande mudança começa hoje na estratosfera , e afetará o tempo em Portugal durante Março – saiba o que é um aquecimento súbito da estratosfera, e mais detalhes!
Conteúdos
Nos últimos dias temos tido muitas perguntas sobre o aquecimento súbito da estratosfera, e de que forma um “aquecimento” pode levar a frio e chuva – e este artigo, esperamos, servirá para esclarecer essas dúvidas!
De uma forma MUITO simplificada, e como já referimos em artigos anteriores, o tempo, no Inverno, no hemisfério Norte, tem vários “motores” que acabam por influenciar a forma como o jato subpolar (que “conduz” as depressões”) se comporta – e um desses motores é o vórtice polar, e a sua estabilidade
O vórtice polar, tipicamente, situa-se sobre o Pólo Norte, a dezenas de kms de altitude, e no fundo trata-se de um ciclone de larga escala, que mantém o frio e as depressões mais a Norte – com o jato polar a circular de Oeste para Leste
Porém, por vezes, e será o caso neste início de março, o calor presente na troposfera (camada baixa da atmosfera) acaba por “encontrar um caminho” e acaba por se “infiltrar” na estratosfera – e aí, o vórtice polar sofre uma grande perturbação – e os ventos que, habitualmente circulam de Oeste para Leste, podem mesmo reverter – algo a que chamamos “Major SSW”, ou, em tradução literal “grande aquecimento da estratosfera”
Quando isto acontece a corrente jato subpolar, que influencia o comportamento das depressões na nossa latitude, e no Atlântico, fica mais “ondulada”, com muito mais perturbação, e, por essa razão, as probabilidades de chuva, vento e neve aumentam drasticamente!
Podemos ver essa reversão total dos ventos em altitude ainda antes de dia 10 de março, segundo a previsão GFS – com 100% de probabilidade em todos os ensembles, pelo que é uma previsão na qual temos praticamente confiança absoluta (Reparem no número no canto esquerdo da imagem, valor negativo = reversão dos ventos em altitude)
AQUECIMENTO SÚBITO DA ESTRATOSFERA – PROBABILIDADE DE OCORRÊNCIA E PROPAGAÇÃO
Como já referimos, olhando aos vários modelos de previsão, entre o menos fiável (teoriamente) modelo Americano GFS, e o mais fiável (novamente teoricamente) ECMWF, e os seus ensembles, as previsão são… iguais
A probabilidade calculada é assim de 100% – sendo que apenas uma falha catastrófica de todos os modelos de previsão levaria a que não ocorresse… Assim, e salvo uma mudança que não esperamos, de todo, teremos um Major SSW, com reversão dos ventos em altitude!
No entanto… falamos de uma altitude a rondar 30kms (10hPA), o que não influencia diretamente o tempo – para isso é necessário haver o que chamamos de “acoplamento troposfera-estratosfera” – só aí podemos ter a propagação dos efeitos deste episódio para a troposfera
Olhando às cartas – iremos ter essa propagação? Mais uma vez… tudo indica que sim!
No entanto de que forma, e o quão prolongados serão os efeitos é a grande questão que se mantém – pelo menos 7 a 10 dias parece MUITO provável, e, por essa razão, teremos, efetivamente, 7 a 10 dias de chuva e vento – com frio, também, conforme já referimos!
Podemos ver essa propagação refletida na previsão GEFS – reparem na cor azul a descer das altitudes mais elevadas para a superfície na carta seguinte – antes de, novamente, voltarmos ao “normal”? Veremos, não nos parece muito provável!
ISTO SIGNIFICA QUE TEREMOS, ENTÃO, UM MARÇO MUITO CHUVOSO?
Provavelmente – os modelos começam a refletir isso nas previsões!
No entanto é necessário que tenhamos alguma “contenção” ao prever a mais de 10-15 dias neste momento – pois, a partir daí, os efeitos desta perturbação\divisão do vórtice polar tornam-se MUITO mais imprevisíveis
Por essa razão, para já, prevemos que o mês seja chuvoso, porque, efetivamente, no período de previsão fiável – até 15 de Março – prevemos muita chuva, que já deve ultrapassar a média mensal de precipitação!
Não significa que durante a segunda quinzena, e particularmente a partir de dias 17-20 de março, a estabilidade não regresse – de facto até pode regressar… no entanto já terá chovido muito
Esperamos que seja o caso – e que a precipitação acabe por parar por volta desses dias – pois a cada dia que este padrão atmosférico se mantiver o risco de cheias aumenta – e esse risco é elevado mesmo até dia 15!
Estamos algo preocupados com as bacias do Tejo e Mondego, particularmente – embora seja ainda imprevisível o efeito das chuvas em todas as outras bacias hidrográficas – o cenário ideal é que a chuva acabe por cair mais a Sul, onde terá efeitos positivos nas barragens que ainda necessitam de muita água, no litoral Alentejano e no Algarve, e que chova menos a Norte e Centro – previsões ainda incertas!
Podemos ver, segundo a previsão ECMWF, a previsão de chuva até dia 15 de março – como referido, apenas com esta precipitação, e sem contar com a precipitação que poderá vir a cair depois, março terá mais chuva que a média!
POSSÍVEIS IMPLICAÇÕES PARA OS MESES SEGUINTES?
Demasiado cedo para falarmos sobre isso – no entanto há uma tendência que temos notado – muitas vezes, quando há um aquecimento da estratosfera nesta altura, a Primavera acaba por ser algo chuvosa, inicialmente, seguindo-se um maio seco e quente, e um arranque de verão… lento
Isto significa que temos visto meses de junho, e mesmo julho, frescos e com mais nuvens, quando este tipo de fenómenos ocorre nesta altura do ano
De notar que não há estudos fiáveis que comprovem isto, apenas uma tendência observada
Pode ser coincidência, mas também pode ser o facto de, depois de termos um anticiclone afastado, e com as mudanças\transições a decorrer na atmosfera, com as depressões a enfraquecerem naturalmente com a chegada da primavera, o anticiclone tenha dificuldade em reforçar-se novamente para a chegada do Verão
Enfim, algo a acompanhar, mas algo que temos observado. De qualquer forma não conseguimos ainda prever a esta distância – como é óbvio
Por curiosidade (e apenas curiosidade, porque previsões a esta distância têm menos fiabilidade que o normal), a previsão para o trimestre junho-julho-agosto, segundo o modelo de previsão CFSv2 aponta precisamente para um verão mais quente que a média – mas nada de mais no nosso país, e até com sinais de nortada novamente… veremos como se irá verificar!
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